sábado, 26 de maio de 2012

Comentários - Farturas e fratura

O artigo de opinião de hoje Fartura e fraturas da Mirian Leitão no Jornal O Globo é uma síntese, que na minha leitura, ilustra claramente a discussão sobre o"Novo remendo Florestal" e suas fragilidades não apenas ao meio ambiente, mas ao sistema político brasileiro, maculado tanto por uma “burrocracia” instigada por pessoas de caráter extremamente questionável, quanto pela “ignorância” e desinteresse político da nossa “gente boa que gosta de trabalhar”.


Um país que não preserva suas riquezas, e em nosso caso, estas estão na imensa biodiversidade e potencial floresta e agrícola que temos, também ignora sua gente. Parece até que viver do campo de forma organizada, manejada e sustentável é coisa de país retrógado... como pode isso ainda hoje, incentivamos “nossos filhos” a viver da cidade sendo que é no campo que estão nossas maiores potencias em especial em um mundo que projeto 9 bilhões de pessoas até 2030 e que vão precisar comer, beber e respirar e isso tudo é sim um dinheiro que “brota em árvore”, contrariando as broncas que levamos dos nossos país na adolescência quando íamos negociar a mesa.

Contudo, não basta responsabilizar políticos e ruralistas, uma vez que fomos nós quem colocamos figuras "incestuosa..." como Aldo Rebelo, Katia Abreu e cia no parlamento... assim como os 29 deputados que tiveram a ousadia de votar contra a PEC de combate ao trabalho escravo.

Isso é só um espelho da triste imagem que fomentamos diante de um espelho distorcido de um país tão rico, diverso e cheio de pessoas boas, mas que na sua "ignorância" e alegria de lapsos momentâneos, onde tudo se resolve em "churrasco na laje regado a cerveja no fim de semana" já paga hoje um crediário social e ambiental que mais a frente terão de pagar novamente, porém, lá... provavelmente a conta será "à vista" ou sobrecarregada de "juros compostos".

Votar é um ato de extrema responsabilidade, pense nisso e sempre que possível busque também agir, pois no fim das cotas os problemas não se transferem voltam para nós de um jeito ou de outro


Fraturas e fortuna

Link: http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2012/05/26/fraturas-fortuna-447249.asp

Coluna no GLOBO
Enviado por Míriam Leitão - 26.05.2012 09h00m


Toda a discussão do Código Florestal mostrou uma fratura no sistema de representação política do Brasil. A bancada ruralista defendeu pontos que são inaceitáveis pelo momento em que o mundo vive, são contraditórios com o que pensa a maioria da sociedade e não refletem a prática de parte importante do agronegócio. Há um lado moderno e dinâmico do setor que pelo silêncio se deixou representar por defensores de teses obsoletas.


A lei vai ser sancionada toda fraturada. O governo pegou a lei aprovada na Câmara, vetou 12 dispositivos e mudou, fez ajustes ou acrescentou outros 32.


— Na segunda-feira, o Código atual não estará em vigor, haverá uma lei sancionada com buracos e uma MP tentando preencher esses buracos — resume Tasso Azevedo, que foi diretor do Serviço Florestal Brasileiro.


A tramitação será difícil porque é uma MP que tenta consertar uma lei com vetos. Se a MP cair, ficará um monstrengo cheio de falhas em vigor. O governo diz que não há anistia, mas as multas estão suspensas. Diz que se o proprietário não fizer o Cadastro Ambiental Rural e o Plano de Recuperação Ambiental em cinco anos não terá direito a financiamento. Mas o prazo era um ano. Os vetos melhoram o que foi aprovado na Câmara, mas não organizam a confusão nem atualizam o debate no país.


Houve, durante todo o processo, uma fratura do governo com ele mesmo. No início da tramitação no Congresso, o governo não quis ver a dimensão do que estava sendo decidido. Omitiu-se. Um deputado da base, hoje ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, comandou de forma equivocada a discussão. Era para encontrar um caminho equilibrado. Ouviu apenas o pior de um dos lados. E defendeu sua proposta com argumentos de deplorável xenofobia. Já o governo ficou na estranha situação de perder de sua própria base nas etapas seguintes. Até chegar na posição de vetar partes do Código aprovado com muitos votos governistas.


Existe uma agricultura moderna que sabe que o desmatamento descontrolado, as práticas agressivas ao solo e a falta de proteção aos rios, morros, nascentes levarão a prejuízos. A terra e a água são os principais insumos da agropecuária. Isso é cristalino. Agora, ficará assim: dependendo do tamanho da propriedade, a mata ciliar a ser respeitada terá uma dimensão. Os rios brasileiros serão protegidos relativamente.


Houve uma fratura no país. O Congresso aprovou um Código que a sociedade não concordou. A mobilização pelas mídias sociais, pelo país afora, unindo pessoas de áreas e pensamentos diferentes, mostrou isso. As questões não respondidas: por que o Congresso não representou a sociedade? Por que a agricultura moderna, dinâmica e atualizada prefere não ter voz?


Ficou de tudo isso um rancor entre as partes. Há bons debates políticos. Esse foi ruim. Os produtores acham que enfrentaram ONGs internacionais e urbanóides sem noção, e se queixam de preconceito contra eles. O outro lado está convencido de que todo produtor é um desmatador em potencial.


O Brasil não pode viver sem o agronegócio. O setor entrega por ano US$ 77 bilhões de saldo comercial. Se, por absurdo, ele não exportasse nenhum dólar durante um ano, o país naufragaria. O Brasil disputa com os EUA a liderança pela exportação de carne bovina, é o segundo maior de soja, o primeiro de açúcar, frango, café. Isso sem falar no alimento nosso de cada dia.


A consciência ambiental se espalha de maneira irreversível no Brasil. As novas gerações não querem viver num país que sacrifica biodiversidade e passa o correntão na mata para ampliar a fronteira agrícola. A tendência vai se intensificar nos anos que virão. Pode-se até contrariar a opinião pública, mas é impossível fazer isso com a natureza. Ela tem suas leis irrevogáveis.


A burocracia dos órgãos públicos é irritante. Um produtor rural que queira fazer tudo direito viverá situações bizarras. O governo é exigente com quem está no caminho da legalidade e é displicente com o infrator. Isso se enfrenta com mais estrutura para o Ibama e o Incra e menor burocracia nos processos do Cadastro Ambiental Rural, do Georreferenciamento e da Licença Ambiental. Para isso não seria necessário mudar o Código Florestal.


O setor rural deixou de lado todos os problemas concretos para tentar desmontar o marco legal. Poderia ter se dedicado a lutar contra a excessiva burocracia da legalização, defender a garantia dos preços mínimos, o aumento da estrutura de estocagem e a eficiência de transporte da produção.


O debate expôs uma fratura de uma parte do país com o tempo presente. As propostas foram feitas com o olho no passado. Os vetos às piores partes não curam essas fraturas. Hoje se tem meio Código e muitos remendos. O governo não liderou o processo, o Congresso não representou o país, os produtores rurais deixaram os mais atrasados falarem pelo setor, não houve conciliação entre meio ambiente protegido e produção eficiente, e ampliou-se a insegurança jurídica. Os vetos apenas evitaram o pior.
Às vésperas da Rio+20, a conferência que ocorre duas décadas depois da histórica Cúpula da Terra, o Brasil informa, com todo esse debate, que ainda não entendeu o tamanho da sua fortuna.





sábado, 19 de maio de 2012

Índice vai medir felicidade do brasileiro

Fonte: O Estado de São Paulo
Link: http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,indice-vai-medir-felicidade-do-brasileiro,107243,0.htm
FGV-SP elabora a metodologia do novo índice, a Felicidade Interna Bruta; intenção é fornecer os resultados ao governo federal para auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas

23 de março de 2012 - 22h 45

Roberta Scrivano

SÃO PAULO - A riqueza do País pode começar a ser mensurada de outra forma. No lugar do Produto Interno Bruto (PIB), a Felicidade Interna Bruta (FIB). A Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) está empenhada na elaboração da metodologia do novo índice. A intenção é fornecer os resultados ao governo federal para auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas.

O FIB já existe no Butão, um pequeno reino incrustado nas cordilheiras do Himalaia. Lá, o contentamento da população é mais importante que o desempenho da produção industrial. O índice pensado pela FGV, no entanto, não será tão radical. "O PIB será um dos componentes do cálculo", esclarece Fábio Gallo, professor da FGV-SP que, ao lado de Wesley Mendes, encabeça o desenvolvimento do estudo.

O PIB é considerado por diversos especialistas um índice incompleto. Dados como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ou o nível de segurança das cidades não são contabilizados. Portanto, elencar a grandeza das nações pelos bilhões acumulados com produção industrial e comercial, por exemplo, é, para esses especialistas, uma distorção da realidade.

"Elaborar o índice que queremos é algo complexo. São muitos dados subjetivos que variam de Estado para Estado", explica Gallo. Num país do tamanho do Brasil, com regiões diferentes entre si, a tarefa fica ainda mais complicada. "Tudo será sob medida para cada uma das regiões. Dessa forma, chegaremos a bons resultados, que reflitam a situação real do País", completa Mendes.

Os professores salientam que o PIB falha ao computar os custos ambientais e, ao mesmo tempo, inclui em seu cálculo formas de crescimento econômico prejudiciais ao bem-estar da população. Gastos com crime, atendimento médico, divórcio e até desastres naturais como tsunamis colaboram para elevar o PIB.

O primeiro passo do desenvolvimento da metodologia do FIB brasileiro já foi dado pela FGV, e mostra que a riqueza econômica não é o principal fator de felicidade da população. Um questionário com jovens adultos de São Paulo e de Santa Maria, pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, mostrou que o índice de satisfação dos jovens gaúchos é 22,5% maior que o dos paulistanos. Entre os 11 aspectos de vida estudados, os mais relevantes para a percepção de satisfação foram vida social, situação financeira e atividades ao ar livre.

Ainda de acordo com essa primeira etapa da pesquisa, a principal preocupação dos paulistanos é com segurança pessoal, enquanto a principal satisfação é com perspectivas de crescimento acadêmico. Entre os gaúchos, a preocupação é com as expectativas de conseguir um bom trabalho. A satisfação é com a boa vida social. "Sociedade feliz é aquela em que todos têm acesso aos serviços básicos de saúde, educação, previdência social, cultura, lazer", afirma Fábio Gallo.


Instituto de Finanças

Com a melhoria da renda média do brasileiro e a estabilização econômica, temas como os investimentos e a qualidade de vida ganham espaço. É de olho nessa tendência que a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) criou o Instituto de Finanças. A elaboração da metodologia do índice que medirá a felicidade do brasileiro é uma das iniciativas do novo Instituto.

Maria Tereza Fleury, diretora da FGV, explica que o núcleo de estudos deve ter a mesma representatividade que o Ibre (Instituto de Economia da FGV-RJ) conquistou. "Estamos unindo uma série de iniciativas que já existiam. Agora, teremos uma forte sinergia interna que vai colaborar com o desenvolvimento de diversos tópicos da sociedade", avalia a executiva.

O instituto será coordenado por João Carlos Douat, doutor em administração de empresas. Sob sua coordenação estarão 11 núcleos e cada um será administrado por um ou dois professores da universidade. No total, são 37 docentes envolvidos com a criação do Instituto de Finanças e pouco mais de 3 mil alunos que já estão matriculados terão acesso às novidades.

"Somo uma instituição privada e, portanto, isenta de interferências governamentais. Como temos autonomia, creio que podemos colaborar com a elaboração de bons índices para auxiliar no desenvolvimento de boas políticas à sociedade", completa Maria Tereza.

O índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), por exemplo, será produzido pelo núcleo de Estudos de Felicidade e Comportamento Financeiro, que terá gestão de Fábio Gallo e Wesley Mendes.

No LabFin, o laboratório de finanças, coordenado pelo professor Rafael Schiozer, os alunos farão simulações de investimentos. "Vamos simular a elaboração de carteiras de renda variável e fixa", diz Schiozer. "Queremos formar bons gestores de fundos. Isso é algo inédito no Brasil", reforça.

O professor Antônio Gledson de Carvalho ficará encarregado do núcleo que reúne os docentes que lecionam e orientam os alunos nos cursos de mestrado e doutorado. "Neste momento estamos estruturando uma pós-graduação específica sobre o mercado financeiro", diz Carvalho.

Além desses assuntos, as microfinanças também estão contempladas com um núcleo que será gerido por Lauro Gonzalez. Finanças internacionais, private equity, gestão bancária e contabilidade estão entre os conteúdos contemplados. Outros nomes como Willian Eid Júnior, David Hastings e José Evaristo dos Santos também estão envolvidos no instituto.

TV financeira. Para divulgar os conteúdos produzidos pelo Instituto de Finanças e ter um canal aberto com quem não é aluno da FGV, a fundação prepara também um programa de educação financeira. "Será uma linguagem diferente. Queremos atrair a atenção das pessoas para este tema", diz o professor Fábio Gallo.