sábado, 14 de julho de 2012

Consuma Consciente – Já pensou em usar uma bike?

Vejam que interessante a proposta do projeto Urban-Bike(visite o site U-Bike).

Conhecendo a proposta do site, comecei a me questionar. Por que ainda assim insistimos em investir tanto no transporte individual motorizado? Sendo que existem tantas outras alternativas, só a cidade de São Paulo, por exemplo, recebe em média 700 novos carros emplacados dia, nossas ruas estão cada vez mais cheias de carros (ou melhor, estacionamentos), considerando que mais ficam parados nas vias do que andando.
Imaginem o impacto ambiental com as emissões de CO2 e outros Gases de Efeito Estufa, com está dinâmica e mais, imaginem o custo social disso tudo, considerando que as pessoas ficam paradas no trânsito, improdutivas ou aumentando o risco de segurança porque tenderão a ganhar tempo e com isso, usar o celular ao dirigir, aumentando o risco acidentes, estresses e problemas de saúde decorrentes, inclusive o sedentarismo e obesidade, considerando que as pessoas poderiam estar usando este tempo para fazer uma atividade física.


Já imaginou o quanto tudo isto custa para o sistema os cofres públicos e privados dos sistemas de saúde? Se as empresas de saúde e seguro de vida estivessem mais atenta aumentaria o risco de sinistralidade para àqueles que passam mais de uma hora no trânsito e não só àqueles que andam de moto ou bicicleta.

Segundo dados da FGV, hoje a cidade de São Paulo apresenta um tempo médio de deslocamento de 2,5 horas, existem outros estudos que demonstram que a velocidade medida desenvolvida pelos carros não ultrapassam 12,5 km/h e falando do viés econômico, o próprio estudo da FGV demonstra que tudo isto tem um custo médio de R$27bilhões por ano, imagino que pelas razões que apontei acima e algumas outras. Lembrando que a hora parada no trânsito, quando a pessoa não desrespeita a lei e as normas de segurança falando ao celular, também são horas improdutivas, seja porque a pessoa não está trabalhando ou simplesmente deixando de usufruir de um bem ou serviço e reduzindo o giro da econômica, salvo da industria do petróleo é claro.


Um dia conversando com um colega especialista na área de saúde e segurança, ele estava quase me convencendo que mesmo a bicicleta sendo um meio de transporte mais saudável e ambientalmente bem mais correto, que não era possível que uma empresa fomentasse seu uso, porque o risco de segurança com acidentes é bem maior.

Considerando a realidade do transito em grandes e médias cidades como São Paulo, Campinas, Curitiba e tantas outras, seria obrigado a concordar com esta leitura, mas não quer dizer que eu seja obrigado a me conformar. Inclusive, porque apontei alguns fatores acima que na minha leitura são tão nocivos a saúde quanto qualquer outro acidente, provocando inclusive um aumento no risco de absenteísmo ou mesmo aumento no “turnover”. Afinal as pessoas não agüentam o tempo de deslocamento no trânsito e por vezes decidem deixar o emprego por esta razão (vejam que não estou falando apenas de distância e sim tempo, porque uma cidade como São Paulo distância e tempo não necessariamente guardam uma relação proporcional).  

Por que ao invés de fomentar tanto a indústria do transporte individual, nosso governo não investe mais em pistas seguras para os ciclistas? Melhor, porque nós não cobramos mais isto dos nossos governos? Porque o meio empresarial, com seus escritórios mesmo em centros urbanos investem mais em estacionamentos para os carros do que em vestiários para os ciclistas ou até cursos de alternativas de segurança como U-Bike que visem o uso seguro da bicicleta?

Qual é o papel do governo nesta discussão? Qual seriam o nosso papel como cidadão e o do meio empresarial nesta discussão?

Entendo eu que participação de todos é fundamental, cada um contribuindo na sua esfera de gerenciamento e controle!

Começando pelo nosso como cidadão, entendo que deveríamos fazer escolhas mais conscientes e pautadas por uma ética mais coletiva, porque a opção pelo transporte individual motorizado é sem dúvida uma escolha. Não quero fazer um juízo de valor e sim provocar a reflexão, porque muitas vezes o transporte individual motorizado se mostra necessário ou a melhor opção, mas também na maioria das vezes evitável, em especial se tivéssemos uma estrutura melhor e uma organização social que estimulasse o uso de outros meios de transporte como a bicicleta (meio de transporte em que resolvi colocar foco nesta discussão) e aqui, por exemplo, entra um, entre os muitos papéis que o meio empresarial pode exercer sobre esta discussão.

O meio empresarial, também foi acostumado a todo comodismo que transporte individual motorizado permite, criando uma espécie de “doxa” sobre a importância do transporte individual motorizado e com isso, cada vez mais amplia seus pacotes de benefícios nesta direção, com estacionamento, veículos e até auxílio combustível e manutenção. Só pela questão ambiental até é possível minimizar este impacto, incentivando a aquisição de veículos mais eficientes em termos de consumo e emissões, estimulando o uso de combustível renovável ou até elétrico se houver a disponibilidade, porém, os custos sociais de tempo, saúde e impacto sobre a dinâmica de locomoção da cidade permanecem.

Não quero aqui ser hipócrita porque também faço parte desta realidade, só quero provocar a reflexão de que existem medidas mais próximas da nossa mão, onde podemos interferir se buscarmos alternativas “fora da caixinha”, que vão desde a construção de estacionamentos para bicicletas com vestiários para banho e até subsídios para compra de bicicleta, carona solidária, transporte coletivo até horário flexível e home officer como benefícios ao invés de ter um olhar exclusivo para o transporte motorizado individual. Em suma, quero dizer que não é uma questão exclusiva do governo.

Claro que o governo tem o seu papel e este é fundamental, afinal ao invés de incentivar apenas a indústria automobilística, poderia investir mais na construção de ciclovias seguras, vestiários públicos bem estruturados e bem mantidos, estimular a indústria da bicicleta e transportes de baixo carbono.

Imaginem o quanto um programa de estímulo sobre a industria da bicicleta movimentaria a cidade, com a necessidade de construção de pistas seguras, estacionamentos dedicados com serviços de vestiários, maior utilização do transporte público de forma integrada e até sobre microeconomia, porque certamente uma série de bicicletarias iram surgir, sendo este um negócio de baixo investimento e de fácil capacitação profissional, permitiria que muitos pudessem empreender um novo negócio, assim como inúmeros encontros e atividades de lazer que seriam fomentados, movimentando economicamente os setores de serviços, lazer, turismos, alimentação e bebidas e o quanto tudo isso não geraria de arrecadação tributária e desenvolvimento.

Claro que os resultados não seriam percebidos da noite para o dia e nós ainda pensamos muito no dia de hoje apenas e de forma individual. Nossa sociedade sofre de uma fragmentação e ausência de uma ética que privilegie o coletivo, porém, iniciativas como o U-Bike e outras, nesta direção, mostra que estamos evoluindo e sustentabilidade é isso, um movimento em construção, por isso, carrego comigo está fé que amanhã será melhor que hoje e usaremos nossa rica capacidade humana de criar e recriar a benefício de todos.Ou seja, é caro, é ruim, é sofrido. Mas nem tudo está perdido: em meio a todo esse caos, lentamente começam a surgir propostas que buscam um novo caminho, que misturam iniciativa pública e privada e merecem ser notícia.

Blog: Sustentabilidade em Movimento

By Fabiano Rangel

Data: 14/07/2012

O projeto Urban Bike por exemplo, oferece o primeiro serviço de personal bikers e de cicloturismo da capital, promovido pela Green Mobility e da ONG Parada Vital, com apoio do Hotel Unique, da Caloi e da Prefeitura de São Paulo.