Conhecendo a proposta do site, comecei a me questionar. Por que
ainda assim insistimos em investir tanto no transporte individual motorizado? Sendo
que existem tantas outras alternativas, só a cidade de São Paulo, por exemplo, recebe
em média 700 novos carros emplacados dia, nossas ruas estão cada vez mais
cheias de carros (ou melhor, estacionamentos), considerando que mais ficam
parados nas vias do que andando.
Imaginem o impacto ambiental com as emissões de CO2 e outros
Gases de Efeito Estufa, com está dinâmica e mais, imaginem o custo social disso
tudo, considerando que as pessoas ficam paradas no trânsito, improdutivas ou
aumentando o risco de segurança porque tenderão a ganhar tempo e com isso, usar
o celular ao dirigir, aumentando o risco acidentes, estresses e problemas de
saúde decorrentes, inclusive o sedentarismo e obesidade, considerando que as
pessoas poderiam estar usando este tempo para fazer uma atividade física.
Já imaginou o quanto tudo isto custa para o sistema os
cofres públicos e privados dos sistemas de saúde? Se as empresas de saúde e
seguro de vida estivessem mais atenta aumentaria o risco de sinistralidade para
àqueles que passam mais de uma hora no trânsito e não só àqueles que andam de
moto ou bicicleta.
Segundo dados da FGV, hoje a cidade de São Paulo apresenta
um tempo médio de deslocamento de 2,5 horas, existem outros estudos que
demonstram que a velocidade medida desenvolvida pelos carros não ultrapassam
12,5 km/h e falando do viés econômico, o próprio estudo da FGV demonstra que
tudo isto tem um custo médio de R$27bilhões por ano, imagino que pelas razões
que apontei acima e algumas outras. Lembrando que a hora parada no trânsito,
quando a pessoa não desrespeita a lei e as normas de segurança falando ao
celular, também são horas improdutivas, seja porque a pessoa não está
trabalhando ou simplesmente deixando de usufruir de um bem ou serviço e
reduzindo o giro da econômica, salvo da industria do petróleo é claro.
Um dia conversando com um colega especialista na área de saúde
e segurança, ele estava quase me convencendo que mesmo a bicicleta sendo um
meio de transporte mais saudável e ambientalmente bem mais correto, que não era
possível que uma empresa fomentasse seu uso, porque o risco de segurança com
acidentes é bem maior.
Considerando a realidade do transito em grandes e médias
cidades como São Paulo, Campinas, Curitiba e tantas outras, seria obrigado a
concordar com esta leitura, mas não quer dizer que eu seja obrigado a me
conformar. Inclusive, porque apontei alguns fatores acima que na minha leitura são
tão nocivos a saúde quanto qualquer outro acidente, provocando inclusive um
aumento no risco de absenteísmo ou mesmo aumento no “turnover”. Afinal as
pessoas não agüentam o tempo de deslocamento no trânsito e por vezes decidem deixar
o emprego por esta razão (vejam que não estou falando apenas de distância e sim
tempo, porque uma cidade como São Paulo distância e tempo não necessariamente
guardam uma relação proporcional).
Por que ao invés de fomentar tanto a indústria do transporte
individual, nosso governo não investe mais em pistas seguras para os ciclistas?
Melhor, porque nós não cobramos mais isto dos nossos governos? Porque o meio
empresarial, com seus escritórios mesmo em centros urbanos investem mais em
estacionamentos para os carros do que em vestiários para os ciclistas ou até
cursos de alternativas de segurança como U-Bike que visem o uso seguro da
bicicleta?
Qual é o papel do governo nesta discussão? Qual seriam o
nosso papel como cidadão e o do meio empresarial nesta discussão?
Entendo eu que participação de todos é fundamental, cada um
contribuindo na sua esfera de gerenciamento e controle!
Começando pelo nosso como cidadão, entendo que deveríamos
fazer escolhas mais conscientes e pautadas por uma ética mais coletiva, porque
a opção pelo transporte individual motorizado é sem dúvida uma escolha. Não quero
fazer um juízo de valor e sim provocar a reflexão, porque muitas vezes o
transporte individual motorizado se mostra necessário ou a melhor opção, mas
também na maioria das vezes evitável, em especial se tivéssemos uma estrutura
melhor e uma organização social que estimulasse o uso de outros meios de
transporte como a bicicleta (meio de transporte em que resolvi colocar foco
nesta discussão) e aqui, por exemplo, entra um, entre os muitos papéis que o
meio empresarial pode exercer sobre esta discussão.
O meio empresarial, também foi acostumado a todo comodismo que
transporte individual motorizado permite, criando uma espécie de “doxa” sobre a
importância do transporte individual motorizado e com isso, cada vez mais
amplia seus pacotes de benefícios nesta direção, com estacionamento, veículos e
até auxílio combustível e manutenção. Só pela questão ambiental até é possível
minimizar este impacto, incentivando a aquisição de veículos mais eficientes em
termos de consumo e emissões, estimulando o uso de combustível renovável ou até
elétrico se houver a disponibilidade, porém, os custos sociais de tempo, saúde
e impacto sobre a dinâmica de locomoção da cidade permanecem.
Não quero aqui ser hipócrita porque também faço parte desta
realidade, só quero provocar a reflexão de que existem medidas mais próximas da
nossa mão, onde podemos interferir se buscarmos alternativas “fora da caixinha”,
que vão desde a construção de estacionamentos para bicicletas com vestiários
para banho e até subsídios para compra de bicicleta, carona solidária,
transporte coletivo até horário flexível e home officer como benefícios ao
invés de ter um olhar exclusivo para o transporte motorizado individual. Em
suma, quero dizer que não é uma questão exclusiva do governo.
Claro que o governo tem o seu papel e este é fundamental,
afinal ao invés de incentivar apenas a indústria automobilística, poderia
investir mais na construção de ciclovias seguras, vestiários públicos bem
estruturados e bem mantidos, estimular a indústria da bicicleta e transportes
de baixo carbono.
Imaginem o quanto um programa de estímulo sobre a industria
da bicicleta movimentaria a cidade, com a necessidade de construção de pistas
seguras, estacionamentos dedicados com serviços de vestiários, maior utilização
do transporte público de forma integrada e até sobre microeconomia, porque certamente
uma série de bicicletarias iram surgir, sendo este um negócio de baixo
investimento e de fácil capacitação profissional, permitiria que muitos pudessem
empreender um novo negócio, assim como inúmeros encontros e atividades de lazer
que seriam fomentados, movimentando economicamente os setores de serviços,
lazer, turismos, alimentação e bebidas e o quanto tudo isso não geraria de
arrecadação tributária e desenvolvimento.
Claro que os resultados não seriam percebidos da noite para
o dia e nós ainda pensamos muito no dia de hoje apenas e de forma individual.
Nossa sociedade sofre de uma fragmentação e ausência de uma ética que
privilegie o coletivo, porém, iniciativas como o U-Bike e outras, nesta
direção, mostra que estamos evoluindo e sustentabilidade é isso, um movimento
em construção, por isso, carrego comigo está fé que amanhã será melhor que hoje
e usaremos nossa rica capacidade humana de criar e recriar a benefício de
todos.Ou seja, é caro, é ruim, é sofrido. Mas nem tudo está
perdido: em meio a todo esse caos, lentamente começam a surgir propostas que
buscam um novo caminho, que misturam iniciativa pública e privada e merecem ser
notícia.
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