Matéria recente (08/11/2011) do Valor Econômico " Consumidor negro sofistica compras", infelizmente evidencia o quanto ainda vivemos em um país carregado de desigualdades e o mais triste e complexo é que uma parte significativa dessa desigualdade se acentua por preconceitos, o que chega a ser paradoxal, considerando que vivemos em um país livre e economicamente regido pelo sistema capitalista, onde a gestão de riscos, lucros e negócios deveria ter um olhar realmente mais pragmático sobre números.
Números estes que a matéria correlaciona, demonstrar o quanto ainda somos carreado por uma herança escravocrata medíocre, indigna, desumana e muitas vezes contaminada por um elitismo (não confundir com elite, até porque existe muita gente na elite que trabalha a favor do desenvolvimento do país e que se importam com o bem estar das pessoas), que apenas se sofisticou tornando sutil e velado o preconceito, ainda presente e que só traz prejuízos ao desenvolvimento do país.
Um preconceito descabido que cria e fomenta uma base artificial da pirâmide que se desenvolvida, reduziria ainda mais nossa dependência de mercados externos, em especial para os setores e mercados que vivem de demandas por bens de consumo duráveis e não duráveis e de tabela alavancaria a demanda por commodities das quais somos grandes produtores e que nossa mediocridade faz questão de mandar para fora aumentando ainda mais a pegada de carbono e o impacto ambiental destes processos.
Os números da matéria não me surpreendem tanto, uma vez que há algum tempo vem acompanhando essa discussão, mas me indigna sim a forma como “naturalizamos” essa desigualdade. Essa é uma questão que chama atenção e me intriga um pouco mais, ver a forma como nos parece “natural que os negros tenham acesso mais lento aos bens de consumo não duráveis” – fala da matéria, isso na minha leitura mostra a sutiliza com a qual cristalizamos preconceito de forma velada, neste caso racial.
Imagine se não é o mesmo que dizer "é natural que os brancos ganhem mais, porque são brancos ou porque não foram escravizados, ou porque se empenharam mais". Nestas horas sempre lembro do conceito trabalhado pelo Amathya Sen de "Desenvolvimento como Liberdade". Não haverá real desenvolvimento sem inclusão, respeito, valorização da diversidade e consequentemente equidade entre as oportunidades e isso é uma demanda que não pode ser delegada para às próximas gerações, precisa acontecer aqui e agora. Mudar o jeito de pensar e ver as coisas, reconhecendo preconceitos e trabalhando contra isso já é um bom caminho.
Entre os negros ainda temos mais 50% dessa população na classe D e E, ou seja, muito trabalho no plano das políticas macroeconômicas a serem feitas. Empresas atentas a essa ascensão certamente terão uma preferência diante desses consumidores.
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