domingo, 4 de dezembro de 2011

Qual a relação com a Goma Árabica, Industria de Alimentos, Sustentabilidade e Resolução de Conflitos?

A matéria que segue traz uma leitura interessante sobre a complexidade da discussão da sustentabilidade, desenvolvimento sustentável ou qualquer outro nome dirigido ao assunto que preferir (fica a gosto do freguês).

Isso porque neste caso o mais relevante é entender a atual dinâmica de um mundo complexo, interligado e sistêmico, onde um produto como a Goma Arábica - isso mesmo - àquela que usávamos nas aulas de educação artistica no ensino fundamental e que os correios usam até hoje para fechar cartas, pode ter de impacto positivo para preservação de áreas florestais, desenvolvimento socioeconomico, resolução de conflito e a ainda assumir um papel importante na atual indústria de alimentos e tudo isso, em uma pequena região do oriente médio.

Contudo, para que todo esse potêncial se torne realidade é necessário um nível especial de atenção e gestão, mas não qualquer gestão, estamos falando de uma gestão pública que seja pautada por direitos humanos e com foco no desenvolvimento local integrado, sem ignorar as questões culturais e relegiosas, mas isento dessas premissas, portanto, não estamos falando de gestão pública de país, mas multilateral, porque existem muitos atores não regionais nessa cadeia que podem deixar um legado positivo ou não, de acordo com as premissas que adotarem.

Na minha leitura, vale a reflexão!


A GOMA-ARÁBICA, UMA SOLUÇÃO MILAGROSA PARA OS PROBLEMAS DO SUDÃO?
Fonte: G1
Data: 01/12/2011

Al-Dourouta, Sudão, 1 dez 2011 (AFP) -A goma-arábica, uma resina da acácia recolhida, principalmente, no Sudão, em zonas em pleno conflito, é um componente essencial da Coca-Cola - e seus produtores esperam fazer dela um maná que poderá salvar a região da pobreza e da guerra. Há 14 anos, Al-Amin recolhe o produto no estado de Kordofan do Norte, mas o camponês, de 40 anos, tira disso um rendimento tão pequeno que pensa, para alimentar sua mulher e os sete filhos, cortar as árvores e vendê-las para fazer carvão, contribuindo, dessa forma, para a desertificação do centro do Sudão. Ele diz não ter "outra escolha, senão olhar a propriedade e pensar quanto poderá ganhar com as árvores cortadas". A goma-arábica é obtida através de uma incisão feita no córtex de dois tipos de acácias, chamadas Talha e Hashab, que crescem na savana sudanesa, principalmente nos estados de Nilo Azul, Kordofan do Sul e Darfur Sul, todos os três abalados por conflitos armados. A goma transformada é usada como emulsificador, com o nome de E414, e entra, principalmente, na composição de três refrigerantes, além de bombons e pílulas, porque impede o açúcar de cristalizar. Os Estados Unidos importam cerca de 7.000 toneladas por ano, segundo fontes industriais sudanesas, apesar de um embargo total sobre as vendas do país. As autoridades americanas abriram uma exceção para esse produto, em 2000. Um relatório do Congresso destaca que a proibição de importar a goma-arábica proveniente do Sudão, que é de longe o primeiro produtor mundial, teria um efeito "devastador" na indústria alimentar dos Estados Unidos. "Pensamos que a goma arábica é o maná enviado por Deus, o pão do céu", afirmou Abdelmagid Ghadir, secretário-geral da Interprofissão sudanesa da goma-arábica, lamentando que "os camponeses a considerem uma cultura marginal". Issam Siddig, um dos primeiros a transformar a goma sudanesa para fins de exportação, considera que esta cultura poderia mudar a vida dos agricultores, frear a desertificação, e até pôr fim ao conflito em Darfur, na medida em que incentivaria os sudaneses a deixarem as armas, em troca de instrumentos de colheita. Cerca de 13 milhões de pessoas vivem nas regiões de cultura da goma, entre elas cinco milhões envolvidas na silvicultura, quer se trate da colheita da resina ou da derrubada de árvores. Virtudes Medicinais Mas, para que o milagre da produção da goma aconteça, é preciso que seja mais valorizada e, principalmente, que sejam reconhecidas as virtudes medicinais atribuídas a ela por seus produtores. A goma é um prebiótico natural, isto é, favorece o desenvolvimento de bactérias benéficas no intestino, afirma Siddig, lamentando que não seja reconhecida internacionalmente. "Este superalimento, vital para a saúde e para a medicina, é classificado (...) de produto sem importância", lamenta ele. Acusa os compradores ocidentais de terem criado um "monopólio de consumidores", entravaando o desenvolvimento da goma, que, vendida como emulsificador, não passa de 2 dólares o quilo, contra "mais de 100 dólares se for reconhecida como um prebiótico natural". Philippe Vialatte, vice-diretor da empresa francesa Nexira, que compra e transforma cerca de 50% da goma sudanesa exportada, desmente a existência de um tal monopólio, destacando que a liberalização do mercado, em 2009, permitiu aos camponeses obter um melhor preço. Destaca, no entanto, que sua empresa tentou desenvolver a goma como complemento alimentar, há três anos, sem um avanço maior, no entanto, devido à "forte competitividade" de outros prebióticos. Uma esperança subsiste: as propriedades medicinais da goma acabam de ser reconhecidas pela Autoridade sudanesa de controle - um avanço que deverá obrigar a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a debruçar-se sobre o assunto "porque o Sudão fornece 80% da produção mundial" destaca Siddig. Na expectativa de que as 55.000 toneladas anuais da goma produzidas pelo país sejam reconhecidas pelo valor justo, Al-Amin continua a fazer incisões no córtex das árvores, para fazer escoar a substância colante e sem odor, que recolherá depois. Enquanto trabalha, ele recita um poema sobre sua "paixão" pela árvore: "Longe de meus filhos, passo meses a seu lado, porque seu córcex é generoso e sua goma possui 'uma grande beleza". sma-cnp/sd

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