O debate deixa evidente o conceito
de minorias que se discute hoje em dia, o conceito de minoria aqui não é de
representação numérica e sim política, ou seja, da capacidade de influenciar e
participar em condições de equidades e igualdade das decisões que afetam a
todos e todas.
Quando digo que a pequena matéria
coloca tudo isso em evidência é por o debate estressa bem estes pontos, pois de
um lado encontramos uma Maria Luiza Trajano, executiva de sucesso defendendo
medidas transitória e emergências com vistas a ruptura forçada do status quo,
como a cota para mulheres em conselhos de administração, sob o argumento que
atualmente já temos muitas mulheres ocupando posição de diretoria, acumulando
experiências e segundos os dados do IBGE com no mínimo um ou mais anos de
estudos que os homens e de outro lado, o presidente da BMF&Bovespa,
alegando que isto ainda não é possível porque as mulheres não estão preparadas
para este posição. Será mesmo? Se assim fosse verdade, porque elas
estariam nas posições de direção então? E o mais grave, o eco a favor
desta alegação “machista” vem ecoado por uma mulher que como disse, ainda é um
ambiente excludente que favorece este auto-boicote, pois a preocupação da mulher
é ser vista como mulher e que isto a favoreceu de alguma forma.
Se isto é bem verdade, então como
explicar atual fraco desempenho das empresas de capital aberto no Brasil, com
os seus conselhos compostos majoritariamente por homens? Isso também incluí as
empresas de capital fechado em que a alta direção ainda é majoritariamente
masculina.
Neste caso temos aqui materialidade
e números suficientes para avaliar e colocar em questão se os homens estão tão
bem preparados assim para estas posições no mundo de hoje. O preparo vem
com a experiência, com o empenho e certamente com as oportunidades, porém, se o
cluster for fechado, não há como gerar oportunidade e não efetivamente como
medir o nível de preparo que se alega.
Uma das coisas que mais me
impressiona é que os homens não se questionam e nem questionam as mulheres se
estão preparados para ser pai e mãe e logo colocam a responsabilidade da
maternidade, do cuidado com os filhos, da educação e formação dos valores de
uma família, que na minha singela opinião é uma gestão de pessoas e de
organização muito mais complexa que muitos negócios e nestas horas, ninguém tem
dúvidas se a mulher estará ou não preparada ou mesmo que exista a dúvida, logo
colocam essa “bucha” no colo delas assim mesmo.
Por isso, que trazendo a discussão
para aspecto mais pessoal, quando vejo a argumentação equivocada do Sr.
Presidente da BMF/BOVESPA, me questiono fortemente se o moço não teve mãe e se
teve, se não aprendeu nada no seu processo de desenvolvimento pessoal, porque
ter uma esposa ainda pode ser uma escola, mas não há outra forma de nascer (que
eu conheça) que não seja de um útero feminino.
Indo mais além e imaginando que
um homem de negócios ainda pense dessa forma e tenha apenas filhas (que a
princípio dentro dos atuais padrões bioéticos ainda não é uma possibilidade
escolher o gênero de nascimento do filho), será que ele não considera que mais
a frente quem pagará as penas do preconceito e machismo fomentado por ele hoje serão
suas próprias filhas. Pois se o pensamente realmente é este e o que conta é mesmo estar
preparado como mencionado, não me parece muito inteligente do
ponto de vista financeiro e de resultado efetivo que um pai invista muitos recursos na
educação e formação das suas filhas, uma vez que, por mais que isto seja feito, elas
não estarão mesmo preparadas para assumir posições mais relevantes nas
organizações.
Então qual a eficiência deste
investimento? Fundo perdido! Isso é aceitável para homens de negócio? Investimento a fundo perdido?!
Claro que estou carregando nas cores do exemplo e
da crítica, mas para nos levar a uma relfexão mais profunda e prática destes
aspectos sobre os efeitos práticos desta visão e comportamento sobre as relações sociais em nosso dia a dia e isto acontece com frequencia quando
pensamos o mundo a partir de um único referencial, neste caso, do homem
provedor, bem sucedido e isolado no seu jeito de pensar e o mais complicado de
agir, pois são estes homens quem tem sobre si um poder de decisã que pode impactar e gerar prejuízos a muitos e muitas.
Vejamos quantos homens tem essa
crise de existência quando chegam lá? Eu ainda não conheci nenhum, pois não
fomos educados e treinados pela vida para isso, pelo contrário a vida nos criou
para sermos o “macho” provedor. Porém a sociedade já não reflete mais tão bem
valores como estes e os homens precisam ficar mais atentos a isto.
A
penalização que insistimos em colocar sobre as mulheres com esta visão distorcida também é
a sentença do homem que pode ter o desejo e interesse de desbravar outros
desafios, ambientes e possibilidades que não apenas se o “macho” provedor.
Na minha leitura, vale a reflexão!
Fonte: Valor Econômico
08/10/2013 às 00h00
Cota feminina em conselho gera
polêmica
Por De São Paulo
Luiza
Trajano, presidente da rede de varejo Magazine Luiza, e Edemir Pinto,
presidente da BM&FBovespa, protagonizaram um debate acalorado sobre o
projeto de lei que prevê cotas para mulheres nos conselhos de administração,
durante o Fórum Momento Mulher, ontem, em São Paulo.
Segundo a
Fundação Getúlio Vargas, de quatro anos para cá, a presença de mulheres nos conselhos e nas diretorias das
empresas listadas na bolsa está estacionada em torno de 7,7%. Luiza
disse que é a favor das cotas como uma medida
transitória para acelerar a inserção das mulheres nos conselhos.
"Eu não
gosto de conselho e não tenho interesse de buscar emprego em um. Mas várias mulheres mais velhas que estão
deixando seus cargos de diretoria não vão ser convidadas para um conselho.
Agora, se você, Edemir, sair da presidência da bolsa hoje, vai chover convite
para você", disse Luiza, aplaudida em vários momentos.
Pinto,
apoiado pela presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
(IBGC), Sandra Guerra, se declarou contra as cotas. "Não há oferta de mulheres preparadas para assumir
os conselhos imediatamente", disse ele, sob vaias. Sandra disse que as cotas
poderiam acentuar o preconceito contra as mulheres.
"Você,
Sandra, só é contra porque vive num meio muito masculino. Eles fazem sua
cabeça", disse Luiza. "Mas você também vive num meio masculino",
respondeu Sandra. "Mas
eu mando mais. Eu sou a dona", replicou Luiza. (MF)
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