domingo, 2 de outubro de 2011

A relevância do consumidor na gestão eficiente e responsável da produção, uso e desperdício de alimentos.

O desperdício de alimentos que ocorre em diferentes elos da cadeia produtiva é sem dúvidas, um dos principais desafios do desenvolvimento sustentável das nações, em especial das emergentes como o Brasil, que dia a dia precisa enfrentar os paradoxos acentuados entre a ascensão econômica e as desigualdades sociais que ainda coloca uma parcela significativa da sociedade em condições vulneráveis a sua segurança alimentar, isso falando só de Brasil, porque se essa leitura se estender as diferentes realidades dos países africanos e asiáticos, por exemplo, os problemas serão ainda mais potencializados.

O mais intrigante é que este problema no caso brasileiro não ocorre por falta da produção de alimentos, pelo contrário, o país é o quarto maior produtor de alimentos, excedendo sua produção em mais de 25% da sua necessidade de consumo interno, segundo dados da FAO de 2006.

O nosso maior problema está na gestão do que é produzido, considerando que todo ano cerca de 26 milhões de toneladas de alimentos (Embrapa) são descartados e vão parar no lixo, essa quantidade seria suficiente para alimentar quase 20 milhões de pessoas ou mais. Estes números ganham extrema importância, quando cruzados com o fato de que mais de 14 milhões de brasileiros ainda sofrerem com o drama a insegurança alimentar, segundo dados do IBGE de 2004, que embora antigo não foge muito do cenário atual.

Dados da pesquisa do Akatu de 2004 “A nutrição e o consumo consciente”, aponta que todos os elos produtivos da cadeia de alimentos apresentam deficiências crônicas, sendo alguns mais acentuados, como acontece com a colheita e o processamento culinário, juntos, somam 40% do desperdício sobre o total de alimentos perdidos, na média de 20% em cada. O processamento industrial vem logo na sequência gerando 15% do desperdício.

Quando olhamos para esses números é possível concluir que o consumidor mais consciente tem um papel fundamental na movimentação positiva dos elos desta cadeia, tirando a parte da colheita onde ele teria menos influência direta, o processamento culinário está em suas mãos, assim como o voto de escolha que faz ao preferir um produto industrializado em detrimento de outro.

É de fundamental importância que os consumidores, passem a questionar e privilegiar produtos que apresentem uma gestão mais responsável, com menos desperdícios e impactos socioambientais na produção de alimentos. Essa leitura e reconhecimento de poder do consumidor certamente farão com que empresas, comércios e serviços que têm no campo alimentar parte ou a totalidade de seus rendimentos, adotem uma gestão mais eficiente, responsável e sustentável em diferentes elos da cadeia de alimentos.

Toda essa leitura sobre o desperdício de alimentos é de suma importância, considerando todos os reflexos que essa ineficiência gera e isso, independente da precisão dos números, até porque não vejo necessidade deles para ter a convicção de que muito é desperdício quando falamos de alimentos, basta passear por qualquer rua no final de uma feira ou visitar o depósito de lixo de qualquer grande rede de supermercado. Quando falo dos reflexos é porque além do desperdício em si essa discussão ganha ainda mais relevância quando a colocamos sob uma visão integrada dos impactos socioambientais reflexivos que são gerados pela atual ineficiência dos nossos processos.

Todo alimento para ser produzido, demanda o uso de terras e recursos hídricos, sendo assim , quando jogamos toneladas de alimentos fora, também estamos jogando fora terra cultivada e água recursos e serviços ambientais essenciais a existência humana.

Isso tudo, sem contar quando estamos diante do desperdício gerado no processo de industrialização onde todos os produtos alimentares precisam ser embalados para ganhar maior longevidade em sua conservação, atualmente necessário, considerando nosso modelo civilizatório atual. Processo que por sua vez, também demanda um volume maior no uso de energia e água para que as embalagens sejam produzidas e os alimentos processados, além é claro da pegada de carbono que acrescida, considerando que há um volume expressivo de emissões de CO2 só com o transporte, mas isso, tirando a época em que quase toda a família tinha uma horta em casa, esse é um problema que se aplica a toda cadeia, independente da industrialização.

Acrescente agora toda a pressão que esse desperdício gera na disposição dos resíduos, sejam estes orgânicos dos próprios alimentos, sejam estes das embalagens no caso do processo industrial, afetando diretamente lixões, aterros controlados e aterros sanitários (quando damos a sorte destes resíduos ganharam esse destino), porque muito se joga em locais totalmente inapropriados, aumentando assim os níveis de poluição de terras, rios e mares, paradoxalmente serviços e recursos ambientais necessários a produção de alimentos.

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Acredito que temos aqui argumentos suficientes para que cada um de nós faça uma reflexão sobre o nosso papel enquanto consumidor sobre essa dinâmica do desperdício de alimentos. Podemos e devemos agir, seja evitando que estes desperdícios aconteçam em nossa cozinha, seja exigindo que restaurantes e empresas tenham uma postura diferenciada na gestão dos alimentos, seja também cobrando posturas e políticas públicas dirigidas a estas questões de nossos representantes políticos nas próximas eleições.

Fabiano Rangel

Data: 02/10/2011

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