Como definir o que é sustentabilidade? Seria muita pretensão responder essa pergunta sozinho.Por isso, tenho com esse blog o desejo de construir um espaço aberto e dedicado a troca de ideias, opiniões e qualquer outra informação que ajude a formar um entendimento mais amplo e sistêmico do que é essa tal de “sustentabilidade” desejada pela sociedade, organizações empresariais, sociais e políticas. Aqui você e suas contribuições serão sempre bem vindas. Faça parte dessa construção!
sábado, 26 de junho de 2010
Lei de mudanças climáticas do Estado de SP é regulamentada
A aprovação de Lei Estadual de Mudanças Climática já era motivo de comemoração, mas agora que foi realmente regulamentada podemos comermomar muito e exigir sua efetividade.
Caberá toda atenção dos diferentes atores da sociedade para fazer a medida valer, vamos torcer e acompanhar para que os ógãos públicos competentes cumpram com suas atribuições, assim como cada cidadão, empresa, produtor rural, organizações não governamentais. Políticas públicas dessa natureza exigem um papel diferenciado de toda a sociedade, mas do que comemorar que é importante, precisamos agir, acompanhar em resumo fazer valer.
Parabéns São Paulo por este avanço! Nós só temos a agredecer e fazer valer.
Lei de mudanças climáticas é regulamentada.
Secretário também assina resolução que institui o Pagamento por Serviços Ambientais para projetos de proteção de nascentes.
“Eu não quero apenas assinar esse decreto, quero incorporar isso no meu dia-a-dia”, declarou o governador do Estado de São Paulo, Alberto Goldman, após assinar o decreto que regulamenta a Lei Estadual de Mudanças Climáticas, em evento no Palácio dos Bandeirantes. “Tive mais sensibilidade com as mudanças climáticas quando fui estudar os acontecimentos do final do ano passado e começo deste ano. A mudança climática é uma realidade”, constatou o governador.
A Lei nº 13.798, que foi sancionada em novembro de 2009, tem como meta reduzir, até 2020, 20% das emissões dos gases que agravam o efeito estufa, com base nos dados de 2005. A lei e o decreto mostram o pioneirismo paulista no enfrentamento do aquecimento global.
O compromisso do governo ficou demonstrado na participação efetiva do governador na redação final do texto. “O Goldman pediu que explicássemos a ele os detalhes do decreto e ele foi dando corrigidas finais. Ele ficou bem interessado nos fenômenos climáticos extremos, previstos para 2030, 2050, mas que já estão afetando milhares de brasileiros”, contou o secretário estadual do meio ambiente, Xico Graziano.
O decreto cria e especifica as competências do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, que tem caráter consultivo e tripartite, com participação de representantes de órgãos governamentais, dos municípios e da sociedade civil, totalizando 42 componentes. Entre as atribuições do conselho está a realização de audiências públicas para discutir questões relacionadas à mudança do clima, além de propor medidas de mitigação e adaptação.
Com a assinatura, também fica criado o Comitê Gestor, que acompanhará a elaboração e implementação dos planos e programas definidos no decreto. Composto por membros das secretarias estaduais do Meio Ambiente, Transportes, Transportes Metropolitanos, Gestão Pública, Fazenda, Economia e Planejamento, Desenvolvimento, Agricultura e Abastecimento, Saneamento e Energia, Habitação e Saúde e coordenado pela Casa Civil, o comitê vai avaliar e monitorar o cumprimento da meta global e das metas setoriais e intermediárias, que serão definidas na Comunicação Estadual.
Parte integrante da Comunicação Estadual, que será finalizada no segundo semestre de 2010, o Inventário de Gases de Efeito Estufa do Estado de São Paulo apresenta a base das emissões paulistas. Com a Comunicação Estadual será possível acompanhar o cumprimento da meta prevista na lei.
Planejamento
Os critérios para elaboração da Avaliação Ambiental Estratégica – AAE e do Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE também são definidos no decreto. A AAE é a análise dos impactos ambientais das atividades humanas e será incorporada nas políticas, planos e programas de governo, buscando o desenvolvimento sustentável, com revisão a cada cinco anos. Já o ZEE visa à formulação de políticas de planejamento, ordenação e gerenciamento do território, de modo a convergir o desenvolvimento econômico com propostas de proteção e conservação ambiental.
O decreto ainda institui programas e planos voltados para a inovação tecnológica, energia, transporte, construção civil, educação ambiental e para ações emergenciais e mapeamento de áreas de risco. Há também o programa de crédito Economia Verde, que oferece recursos para entidades privadas na implementação de ações que reduzam as emissões de gases de efeito estufa.
Pagamento por Serviços Ambientais
Na ocasião, o secretário Xico Graziano assinou a resolução da Secretaria do Meio Ambiente – SMA que institui o Pagamento por Serviços Ambientais – PSA. A modalidade inicial prevista na resolução é a remuneração para produtores rurais que protegerem as nascentes dentro de suas propriedades, por um período de cinco anos.
Denominado “Mina D’Água”, o projeto envolve um município de cada uma das 22 bacias hidrográficas do Estado. A equipe técnica da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais da SMA, que coordena o projeto, estima que possam ser beneficiados cerca de 10 a 15 agricultores por município. Para isso serão investidos recursos da ordem de R$ 3,5 milhões do Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição – Fecop.
http://www.ambiente.sp.gov.br/pdf/minutaclimatica.pdf
http://www.ambiente.sp.gov.br/pdf/minutadagua.pdf
Fonte: Texto: Valéria Duarte; Fotografia: José Jorge. 24/06/2010 - 14:22
Campanha da OAB contra tortura
“Se você é neutro em uma situação de injustiça você está do lado do opressor”
Desmond Tutu
OAB São Paulo abre camapanha de combate a trotura. Veja abaixo informações do release oficial e divulgue se entender importante.
A iniciativa inclui a veiculação de um spot de rádio, elaborado pela agência Agnelo Pacheco. A mensagem enfatiza que a tortura deixa marcas perenes nos seres humanos que passaram por essa dolorosa experiência e também informa o número 181 do Disque-Denúncia
“ A sociedade brasileira não pode ser complacente com qualquer tipo de tortura, uma prática de violência sem precedentes, que nega a condição humana e precisa ser combatida em todas as suas formas”, assegura Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da OAB SP.
No Brasil, a Constituição Federal estabelece que ninguém poderá ser submetido a tortura, crime inafiançável e insuscetível de anistia, tipificado pela Lei 9.455, de 1997. A norma define a prática como constrangimento mediante violência ou grave ameaça, causando sofrimento físico ou mental; ou “submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”.
A campanha será veiculada por rádios da capital e do Interior gratuitamente.
Clique aqui (http://videolog.uol.com.br/video?552016) para ouvir o spot da campanha
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Onde está a eficiência empresarial?
Por: Fabiano Rangel – Blog Sustentabilidade em Movimento
26/06/2010
Profissionais a frente das empresas se vangloriam de uma racionalidade empresarial para justificar decisões difíceis ou polêmicas, tudo em nome de eficiência empresarial quase dogmática, mas que na prática vejo pouco dessa eficiência, independente do ângulo que se queira observar.
Minha inspiração para esse post veio de duas fontes:
- A primeira foi quando presenciei em uma empresa que para contratar um serviço de pequeno porte, precisou enviar quase 500 folhas de papel branco com contratos impressos. Isso ocorreu porque a empresa tem uma estrutura organizacional complexa, onde uma holding é responsável pela gestão direta de mais de 10 empresas e precisa ratear proporcionalmente a contratação dos serviços institucionais que contrata por todas empresas do grupo, assim, cada empresa precisa emitir um contrato, mesmo que o valor contratado não ultrapasse a R$100,00 no processo de rateio. Imagine quantos fornecedores esta empresa tem? Qual o impacto desse procedimento na alocação de profissionais e recursos e serviços naturais (papel, tinta, energia para impressão, correio ou outro meio de transporte...)? O mais curioso é que estou falando de uma organização com bom posicionamento e até práticas com atributos de sustentabilidade. Então o que acontece? Por que a existência de procedimentos tão antagônicos?
- A segunda fonte de inspiração foi um diálogo que participei no linkedIn, por meio de um grupo de discussão que integro “Sustentabilidade Brasil” em que um dos participantes postou uma provocação interessantes sobre Planejamento estratégico e Sustentabilidade nas organizações. Neste post o participante citou uma pesquisa interessante realizada em 1999 com 100 empresas brasileiras pela Symentics, mostrando que somente 10% das estratégias empresariais são implementadas com sucesso. Sendo que os motivos para o insucesso dos outros 90% estavam atrelados a 4 barreiras:
- Visão: somente 5% do nível operacional compreendem a estratégia da organização;
- Pessoas: somente 25% do nível gerencial possuem incentivos vinculados ao alcance da estratégia.
- Recursos: 60% das empresas não vinculam recursos financeiros à estratégia;
- Gestão: 85% dos gestores gastam menos que 1 hora por mês discutindo estratégia.
Diante desses dados e fatos, somado ao que vejo nas organizações, fico com a impressão de que as pessoas a frente das empresas acreditam ser capaz de dar conta de tudo e de todos sem ao menos ouvir alguns poucos, e, quando se coloca uma lupa para identificar as bases com que as decisões foram tomadas, em especial as estratégicas, fico com a percepção que na maioria dos casos há pouco base, sobrando uma certa arrogância quase onipresente em boa parte das organizações. Como efeito reflexivo, o que vejo é um conjunto de decisões desajustadas, fragmentadas, esquizofrênicas, desenfreadas e na maioria dos casos unilaterais, em especial quando se compara com a posição institucional da organização representada por este ou aquele profissional.
Deste entendimento me vem uma indagação básica. Quem são as empresas? Até onde sei, são feitas de pessoas. São pessoas aglutinadas em torno de um objetivo comum que fazem a empresa, conduzem sem jeito de ser e fazer negócios. Além disso, empresas geralmente são orientadas por um posicionamento, uma estratégia e uma cultura organizacional. Então onde está o problema para tantos desajustes? Não tenho bagagem nem condições de responder a essa pergunta, mas fico com uma forte impressão que as organizações estão frágeis em termos de cultura organizacional e sem isso, não há posicionamento e estratégia que se sustente.
Isso não é uma leitura em defesa das empresas, mas um convite para que os desafios sejam observados de forma mais integra e sistêmica. Uma empresa, agora sim olhando para a representatividade e responsabilidade institucional ao permitir que seus profissionais tomem decisões desajustadas a sua estratégia e identidade, ainda que de forma unilateral, é no mínimo culpada pela conivência e deve amargar os ônus de eventuais efeitos adversos.
Em resumo, o que percebo nas estruturas organizacionais são processos extremamente desalinhados a qualquer estratégia ou identidade organizacional com inúmeras justificativas. Em nome de muitas coisas (que não dá para listar aqui) as pessoas decidem como querem, mesmo sabendo que não é a decisão mais ajustada a qualquer planejamento estratégico ou identidade da organização. Assim como fazem muitos políticos diante da democracia representativa e que tanto criticamos (na maioria das vezes com razão), mas não percebemos que dentro das organizações empresariais que representamos, padecemos de equívocos muito semelhantes.
Infelizmente as patologias organizacionais somente são diagnosticadas quase no estado terminal da coisa ou quando o sintoma é evidente demais, que a beira o colapso, como foi o caso da BP com o derramamento de óleo, da WordCom, Enro, Sadia, Lojas Marisas, C&A, Petrobrás, Cataguaze Celulose, entre tantos outros exemplos que poderiam ser listados.
Não vejo isso como uma questão exclusiva de um ou outro segmento do mercado ou da economia. Acredito que essas questões perpassam toda e qualquer organização empresarial, porque está nas pessoas e na cultura organizacional que é impressa.
Também não sei dizer se evoluímos, como provoca o post da comunidade do LinkedIn que me inspirou a escrever sobre essa tal “Eficiência Empresarial”. De verdade penso que não, e, se sim, acredito que muito pouco (exemplo: alguém se lembra do comportamento dos Executivos da GM diante da crise? Cortavam funcionários massiçamente e foram de jato particular pedir dinheiro ao governo americano. Onde está a eficiência dessa decisão? E a integridade?). Contudo, em alguma medida tenho percebido algumas organizações empresariais aprendendo com seus erros, exemplo, a C&A com trabalho escravo (só para pontuar) e outras cada vez mais reforçando uma gestão fortemente pautada em seus valores organizacionais.
Quem sabe onde está a eficiência empresarial? Acredito que nas pessoas e que é nessa direção que precisamos nos orientar.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
O problema está só nas grandes cidades? E nossa cultura organizacional?
Além das questões urbanísticas a serem resolvidas com a maior brevidade possível, também precisamos incluir no bojo dessa discussão questões legislativas, por exemplo, a reformulação das atuais leis trabalhistas e questões culturais, em termos de organização do trabalho e gestão de pessoas. Afinal, ainda somos regidos e gerenciamos organizações como no início da revolução industrial.
Como assim? Simples. Uma cidade como São Paulo tem hoje uma atividade econômica pautada na sua maioria pela prestação de serviços, que na maioria dos casos podem ser muito bem realizados a qualquer hora e de qualquer lugar, basta um computador, uma banda larga, um telefone e um bom softwer de gerenciamento (caso a organização queira se sentir no controle).
Já passamos há algum tempo da época em que grandes metrópoles como São Paulo, viviam da produção industrial com processos em linha e que demandava pessoas trabalhando mecanicamente em um mesmo lugar (nossos tempos modernos já são outros). Atividades dessa natureza estão sendo cada vez mais transferidas para cidades distantes das capitais e metrópoles, atraídas por questões logísticas ou em busca de trabalhadores mais baratos e incentivos fiscais de ordens diversas .
Mesmo assim, ainda organizamos o trabalho nas grandes, médias e pequenas empresas sediadas em metrópoles de forma concentrada e com horários rígidos, onde os funcionários precisam estar presentes 8hs por dia (todos no mesmo horário) e 5 ou 6 dias por semana. Contudo, na prática, sua capacidade produtiva chega no máximo a 6 horas dia (sendo otimista).
Com esse modelo, desperdiçamos em média 2hs por dia no mínimo com o uso ineficiente de energia (iluminação, computadores e ar condicionados). Além do desgaste das pessoas com deslocamento em termos de tempo e do uso ineficientes de recursos naturais com o combustível gasto também de forma inadequda, porque ônibus rodam invariavelmente com sobrepeso, carros com peso de menos e ambos com velocidades reduzidas e em constante e processo de aceleração e desaceleração, momento em que o consumo de combustível é maior no veículos a combustão.
Será que um dia vamos atingir a maturidade necessária para rever nosso modelo organizacional de trabalho? Isso, já seria um jeito de contribuir e aliviar algumas questões urbanísticas, sem a necessidade de investimentos vultosos. Boa parte das empresas de tecnologias, inspiradas em suas matrizes fora do Brasil já estão dando passos significativos nessa direção e não por esse motivo, vejo ou leio notícias de que estão enfrentando problemas financeiros ou de produção.
Rever esses modelos ou no mínimo encarar a discussão de frente, nos ajudará a ir muito além das questões ambientais (necessárias e emergências). Essa discussão também guarda enorme relevância com outras questões que estão presente nas pessoas, ou melhor na diversidade de pessoas e condições de vida que compõem nossa sociedade.
Horários flexíveis ou home officer, por exemplo, pode melhorar a inserção e manutenção com mais qualidade das mulheres no mercado de trabalho, dar chances aos homens de experimentar outros papéis e responsabilidades em casa com mais participação na educação dos filhos e até mesmo na organização das suas atividades de lazer e ócio. Fato que por si só, já movimentaria e bem outros setores da economia.
Será que conseguimos avançar? Tenho a fé e o desejo que sim. Não há aqui respostas prontas, mas uma boa reflexão para construirmos perguntas e com isso, colocar essa ideia de uma sociedade mais justa, responsável e sustentável a diante em todos os ambientes.
UMA MULTIDÃO EM MOVIMENTO
- Todos os dias os paulistanos fazem 38 milhões de viagens
- Nos últimos dez anos, as viagens de São Paulo cresceram 20%
- 55% das viagens em São Paulo são feitas com transporte coletivo
- A velocidade média de locomoção por transporte motorizados na cidade de São Paulo é 12 km/h
- A população de São Paulo cresceu 16% nos últimos dez anos e atingiu 20 milhões de habitantes
- Cada pessoa passa, em média, duas horas se deslocando por dia em São Paulo
- Mais de 250 mil pessoas circulam diariamente pela estação da Luz
A distribuição espacial de São Paulo desafia a lógica: a economia está toda concentrada no chamado "centro expandido", a região em volta do centro velho, entre os rios Tietê e Pinheiros. É lá que ficam os empregos, é lá que está o comércio, é lá que está a maior parte da população rica.
Mas as pessoas moram bem longe de lá: nas periferias distantes, cuja população não para de crescer (enquanto a do centro expandido não para de diminuir). "Em 10 anos, o centro expandido perdeu 400.000 habitantes, enquanto alguns bairros da periferia, como Perus e Itaim Paulista, crescem 10% ao ano", diz Soninha Francine, ex-candidata a prefeita pelo PPS.
Esse processo tem origens históricas. São Paulo era uma cidadezinha de 30.000 habitantes em 1870. Virou para o século 20 crescendo astronomicamente, mas ainda tinha só 240.000 pessoas. Atingiu o primeiro milhão nos anos 1930, o segundo nos anos 1940, o terceiro nos 1950, o quarto e o quinto nos 1960, o sexto, o sétimo e o oitavo nos 1970. Enfim, cresceu muito rápido, rápido demais. "Talvez tenha sido a mais rápida taxa de crescimento de uma grande cidade em toda a história da humanidade", escreveu o pesquisador americano Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.
Esse crescimento foi se dando em anéis. Cada camada de gente se acumulava mais longe do centro. "O anel viário é apenas a continuidade dessa história antiga", diz a urbanista Raquel Rolnik, da USP. "O anel viário força a cidade ainda mais para fora", diz Raquel.
Resultado: a área metropolitana da Grande São Paulo tem mais de 50 quilômetros de extensão de leste a oeste. É distância demais. São Paulo é um lugar onde quase todo mundo "mora longe". Em média, o paulistano leva 2h40min no caminho entre a casa e o trabalho, ida e volta. Isso dá um mês por ano parado no trânsito ou apertado no ônibus. E essa é apenas a média: está cheio de gente que gasta o dobro do tempo ou mais. Está aí a explicação para os mais de 10 milhões de toneladas de carbono ou equivalente emitidos na cidade pela queima de combustíveis fósseis – dois terços do total das emissões municipais.
É claro que, se tivéssemos mais carros a álcool, mais transporte público, mais bicicletas, a situação melhoraria. Mais importante ainda seria investir alto em criar infraestrutura para sistemas de transporte de carga de baixa emissão – fazer ferrovias e hidrovias, como a que está em projeto e ligaria o porto de Santos ao Rio Tietê. Mas o problema central é outro: São Paulo precisa aprender a se deslocar menos. Precisa melhorar a logística, que é muito ineficiente (46% das viagens dos caminhões é sem carga). Precisa de mais empregos na periferia e de mais residências no centro expandido. Principalmente residências populares: para que os garçons, as empregadas domésticas, os seguranças noturnos não tenham que atravessar a cidade para ir trabalhar. Precisa crescer para dentro, em vez de para fora do anel viário.
Uma solução é incentivar o surgimento de novos pólos econômicos – como o do Jacu-Pêssego, na Zona Leste, que está em plena implantação. Outra é investir em povoar o centro, com projetos como o Nova Luz, que está reurbanizando toda uma zona degradada no centro da cidade. O bairro da Barra Funda, lá perto, também deve em breve ser reurbanizado, e as recentes declarações do prefeito Kassab sobre a demolição ou a desativação do Minhocão sugerem que a prefeitura leva a ideia a sério. A cidade também poderia desincentivar a existência de imóveis vazios ou pouco ocupados no centro. E São Paulo está cheia deles (veja o ensaio fotográfico). "No último levantamento que fiz, havia 200 prédios vazios no centro, além de 250 estacionamentos, que poderiam ser subterrâneos e dar espaço para prédios residenciais de alta densidade", diz o urbanista Nabil Bonduki, professor da USP e ex-vereador pelo PT.
Como fazer isso? O caminho mais curto é pelo bolso. O novo plano diretor da cidade instituiu o IPTU progressivo para imóveis de "interesse social" que estejam sendo subutilizados. Funcionaria assim: imóveis que ficam em áreas que precisam de mais moradores (como o centro) teriam o prazo de um ano para se adequar. Se não o fizerem, a alíquota do imposto dobra a cada ano, até chegar a proibitivos 15%. Isso forçaria os proprietários a darem um uso para os imóveis. A lei aguarda regulamentação para entrar em vigor, mas a Câmara paulistana tradicionalmente não tem pressa em votar leis que punem proprietários de imóveis.
Fonte: Site do Estadão.com: Isso não é normal
http://www.issonaoenormal.com.br/post/uma-multidao-em-movimento
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Trabalho escravo em SP. Isso é possível? Quem é responsável?
Por: Fabiano Rangel – Sustentabilidade em Movimento
Exemplos como o ocorrido no flagrante do Ministério Público do Trabalho sobre a confecção CSV, prestadora de serviços para a lojas Marisas, chamam nossa atenção para o quanto a discussão sobre responsabilidade social, em especial a leitura sobre a responsabilidade integrada frente ao reconhecimento a questões básicas como o reconhecimento e valia dos direitos humanos fundamentais ainda são frágeis.
Não há dúvidas que há uma responsabildiade a ser compartilhada entre todos os elos da cadeia, inclisive é extretamente permitinente e meritório uma análise individualizada em termos de capacidade de gerenciamente e controle de cada agente dessa cadeia, para se tenha melhores condições de medição da culpa (seja ela por comissão ou omissão). Toda a cadeia produtiv a e deve compartilhar dos dos bonus e dos ônus da atividae explorada.
Quando nos deparamos com situações dessa natureza fica evidente o quanto ainda vivemos sobre uma lógica irreal no que tange a precificação do custo real sobre a produção de qualquer bem de consumo. Como assim? Alguém pode estar se perguntadno. Simples, não há "almoço de graça" e a nossa carga tributária sobre produção e sobre consumo é bem expressiva, então, se determinado produto "dito de qualidade" chega as prateleiras com preços no mínimo “suspeitos” é por algo estranho e provavelmente lesivo a alguém aconteceu no meio do caminho. Como dito no mundo jurídico “onde há fumaça há fogo”.
Chamo atenção para esse ponto, porque nos indignamos frente a situações como a flagrada em feveiro deste ano na CSV em plena São Paulo. Contudo, na lógica da responsabildidade integrada por vezes esquecemos de observar que nós enquanto consumidores também temos um papel prepoderante na indução da cadeia.
A matéria a seguir chega a explorar esse ponto da precificação, mas ainda sobre o produtor/comerciante. O que está correto, mas faltou colocar a mesma questão para o consumidor.
Outro ponto que a matéria explora bem é o conforto institucional que os processos de auditorias trazem. Não quero me opor as auditorias, pelo contrário, são ferramentas de fundamental importância e por isso, devem ser usadas com seriedade e o rigor exigdo. Não pode haver margens para conflitos de interesses e também não podem servir para transferir a responsabilidade que é primária de quem demanda o serviço e lucra com isso.
Contudo, acredito que a real auditoria virá do capital social a ser desenvolvido na sociedade. Precisamos de mais accountabillity, mais participação e cooperação entre o meio produtivo e o mercado de consumo. Precisamos ser mais protagonistas desse processo e menos expectador. Temos uma necessidade urgente de sair da zona de conforto e de acreditar que só os outros erram, que só empresas são figuras “más”. Nós na condição de consumidores também fazemos nossas escolhas e portanto temos a chance de premiar quem faz bem e punir condutas inrresponsáveis.
Oficina flagrada no caso Marisa também produziu para C&A
Registrada como Indústria de Comércio e Roupas CSV Ltda., a oficina de costura ligada à Marisa que foi flagrada com 17 trabalhadores imigrantes em condições análogas à escravidão produzia peças anteriormente para a C&A. A informação foi confirmada tanto pelo dono da oficina, o boliviano Valboa Febrero Gusmán, como pela própria rede varejista.
Operação comandada pela Superintendência Regional de Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP), ocorrida em meados de fevereiro deste ano, encontrou um amplo quadro de irregularidades no local - desde “fortes indícios de tráfico de pessoas”, registros de cobranças ilegais de dívidas dos empregados e salários muito aquém dos permitidos até condições críticas no tocante à saúde e segurança no trabalho, alojamentos completamente inadequados e jornadas exaustivas (detalhes mais abaixo na descrição das condições).
Quando da fiscalização, Valboa confirmou ter fabricado peças de vestuário durante os últimos anos (até 2009) para a Karvin que, por sua vez, atuou como fornecedora da C&A por cerca de 25 anos. Ele declarou inclusive que, entre outubro de 2009 e janeiro de 2010, representantes da companhia internacional com sede na Holanda fizeram vistorias das instalações da oficina situada no bairro de Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista.
À Repórter Brasil, a C&A não se esquivou da responsabilidade em relação à cadeia produtiva dos itens que comercializa, diferentemente de sua concorrente - que preferiu responder na ocasião que a “situação detectada pelos auditores não é de responsabilidade direta ou indireta da Marisa”.
A C&A admitiu inclusive que tomou conhecimento da presença da CSV na sua cadeia produtiva somente em outubro de 2009. “Até então, o fornecedor Karvin não havia comunicado à empresa a inclusão desta oficina na sua lista de subcontratados”, acrescenta a companhia, que sustenta ter “advertido a Karvin de que este procedimento não seria tolerado novamente”.
Desde 2006, a C&A mantém um segmento próprio para auditar a sua cadeia de suprimentos denominado Organização de Serviço para Gestão de Auditorias de Conformidade (Socam). Segundo a empresa, as vistorias são “aleatórias e não agendadas, com o objetivo de coibir qualquer tipo de mão de obra irregular e buscar a melhoria contínua das condições de trabalho”.
A rede varejista confirma ter realizado uma primeira visita à CSV, por meio da Socam, em 23 de outubro de 2009. Nenhum estrangeiro ilegal foi encontrado, assegura a empresa, que verifica, entre outros, aspectos como a regularidade do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
Com o intuito de melhorar as condições de trabalho do local, a Socam estabeleceu, em 28 de outubro, um “plano de ação” para a CSV com diversas ações: disponibilizar e apresentar documentos e critérios adotados para cálculo e pagamento de salários; sinalizar todas as saídas; providenciar a recarga de extintores de incêndio e kit de primeiros socorros; arrumar e organizar a área de trabalho; proteger e melhorar disjuntores e instalação elétrica e providenciar sabonete líquido e papel toalha nos banheiros, entre outras.
“É importante ressaltar que o trabalho realizado pela Socam não tem caráter punitivo, exceto nos casos de infrações graves. O objetivo, além de coibir qualquer tipo de mão de obra ilegal, é também buscar a melhoria contínua das condições de trabalho dos seus fornecedores, informar e promover a transformação destes espaços”, argumenta a C&A.
Em janeiro de 2010, a Socam voltou à CSV para acompanhar a implantação do “plano”. Segundo a empresa, novamente não houve registro de imigrantes sem documentação legal. “Constatou-se, porém, que o plano não havia sido implantado. O prazo inicialmente de 90 dias foi prorrogado pelo mesmo período, até abril de 2010. O não cumprimento implicaria na suspensão do fornecimento. No início de fevereiro, a CSV foi descadastrada pela Karvin, que constatou nesta data a existência de trabalhador sem documentação regularizada”, relata a C&A.
A empresa afirma ainda que o relacionamento comercial com a Karvin também foi temporariamente suspenso por conta de situações irregulares encontradas em outras oficinas subcontratadas. “O fornecimento ficará suspenso até que as irregularidades apontadas sejam resolvidas”, prossegue.
Em depoimento à fiscalização, por seu turno, o proprietário da CSV alegou que o “preço muito baixo” pago pela Karvin (para fornecimento à C&A) por cada peça costurada teria sido um dos motivos para a descontinuidade do vínculo comercial. Questionada sobre a porcentagem de partilha média do preço final pago pelo consumidor - quanto seria destinado aos produtores (oficinas/fornecedores) e quanto ficaria mais especificamente com o varejo, a C&A afirma seguir “os valores que são praticados pelo mercado”.
“É importante ressaltar que o preço de venda não se justifica unicamente com a produção da peça, mas inclui várias despesas na operação como impostos, salários, logística, infraestrutura”, adiciona a empresa.
A Karvin foi procurada para se pronunciar sobre o caso e prometeu atender a reportagem. Após o primeiro contato, porém, a representante da empresa não foi mais encontrada nos diversos telefones mantidos pela fornecedora de peças de vestuário com base no bairro do Bom Retiro.
Com relação aos gastos com publicidade (recentes campanhas da C&A foram protagonizadas por estrelas internacionais da música pop) e à possibilidade de deslocar parte desses recursos para recompensar aqueles que trabalham na cadeia produtiva dos produtos vendidos nas lojas, a C&A se restringiu apenas a declarar que “esta informação [sobre publicidade] não é pública” e que a mesma é “considerada estratégica para a companhia”.
Vistorias
Desde 2006, conforme números divulgados pela C&A, a Socam já realizou mais de 6 mil visitas em fornecedores e subcontratados. Em casos de infrações graves (como o trabalho de imigrantes ilegais e o trabalho infantil), informa a rede, a Socam pode cancelar de imediato as compras do fornecedor. Assim como no caso da CSV, podem ser propostos também planos de ação corretivos, com meta e prazo determinados. O descumprimento do combinado, sustenta a companhia, pode igualmente implicar na suspensão do fornecimento.
Neste período, cerca de 100 fornecedores foram bloqueados pela Socam, ou seja, tiveram o fornecimento suspenso. “As oficinas (subcontratados) não são bloqueadas pela Socam, mas pelo fornecedor, que é responsável pelos seus subcontratados”, completa a rede. Por “uma questão de relação comercial com nossos fornecedores”, a C&A - que se coloca publicamente como “pioneira no Brasil, entre as empresas de varejo de moda, a possuir uma organização [específica, como a Socam]” - prefere não divulgar a quantidade de planos de ação elaborados junto a fornecedores e subcontratados.
A adesão ao “Código de Conduta” e às “Condições Gerais de Fornecimento” - que contêm cláusulas que exigem o cumprimento da legislação trabalhista vigente - é uma das premissas para que uma confecção se torne fornecedora, reforça a C&A. “Cabe ao fornecedor a decisão de escolha de sua rede de subcontratados. Porém, estes devem ser listados e informados à empresa, previamente ao início da relação comercial com a C&A. Também é de responsabilidade do fornecedor manter sua lista de oficinas subcontratadas atualizada. Tanto o fornecedor quanto a Socam realizam as vistorias nas oficinas”, emenda. Estima-se que o investimento na área tenha sido de R$ 7 milhões. Somente em 2009, teriam ocorrido 2,1 mil vistorias.
Em 2007, a C&A, assim como a Marisa e outras empresas do ramo, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) com o compromisso de evitar ligações comerciais com oficinas de costura envolvidas na exploração de trabalho análogo à escravidão e de viabilizar auditorias períódicas de suas cadeias produtivas.
Convidadas a fazer parte do Pacto Contra a Precarização, e pelo Emprego e Trabalho Decentes - Setor das Confecções, contudo, a C&A não aderiu. “A assinatura ao pacto deve ser analisada considerando o setor como um todo, e não somente com adesões pontuais, que não irão produzir os resultados almejados”, rebate a rede. “A C&A não acredita que a adesão de uma só companhia poderá surtir efeitos reais no setor. É preciso um esforço conjunto e estamos em contato constante com os demais players do nosso setor de modo a conseguir um esforço conjunto neste sentido”.
A implantação de um sistema de certificação com vistas a garantir melhores condições de trabalho nas cadeias produtivas está sendo discutida no âmbito da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abeim) - que engloba outras redes como a própria Marisa, Riachuelo e Renner. Uma das consultorias envolvidas na iniciativa é a internacional Bureau Veritas, também citada no relatório de fiscalização do caso que envolveu diretamente a Marisa.
Para fazer vistorias semelhantes aos que a Socam faz para a C&A (até em cumprimento ao TAC celebrado com o MPT em 2007), a Marisa contratou a empresa Bureau Veritas, fundada na Bélgica, em 1928. Na avaliação que fez das condições gerais de trabalho na trinca de fornecedores formada por Dranys, Elle Sete e Gerson de Almeida (que tinham contrato com a Marisa e subcontratavam a CSV) em maio e setembro de 2009, a consultoria aprovou incondicionalmente as instalações das fornecedoras que cuidavam mais do arremate das peças, a despeito dos diversos problemas (como risco de incêndio, desorganização do ambiente e falta de ventilação) verificados pela operação fiscal, que visitou todos os participantes da cadeia produtiva.
Mesmo sem visitar as terceirizadas (que fazem a parte mais substantiva do processo: transformam cortes de tecidos em peças de vestuário quase prontas) da Dranys/Elle Sete/Gerson de Almeida, os auditores da Bureau Veritas atestaram que, no quadro geral, as auditadas “atendiam” às condições de regularidade quanto à ausência de trabalho forçado. Contatada pela reportagem, a consultoria optou por não se pronunciar.
Repercussões
Quase três meses depois da fiscalização e mais de 45 dias após a divulgação na Repórter Brasil, o flagrante de trabalho escravo de imigrantes envolvendo as lojas Marisa continua gerando repercussões.
Advogados da Marisa negociam o estabelecimento de novos padrões de conduta para evitar a ocorrência de flagrantes e para contribuir no sentido de qualificar as condições de trabalho no conjunto da cadeia das confecções.
Sindicato dos Comerciários organizou protesto contra a Marisa em Fortaleza (CE). “Estamos envidando todos os esforços possíveis e imagináveis para reunir o maior número de pessoas em torno desse caso com a finalidade de atingirmos um grau correto e positivo de eficácia da nossa ação fiscal. Por isso, toda a movimentação para trazermos os mais diversos órgãos públicos e entidades da sociedade civil”, comenta Renato Bignami, auditor fiscal do trabalho da SRTE/SP que esteve à frente da operação que rastreou a cadeia produtiva a partir da oficina de costura CSV.
A punição apenas da Marisa, salienta Renato, não pode ser considerada satisfatória. “É necessário buscarmos soluções para que esse caso não volte a se repetir e para corrigirmos um processo crônico de fuga para a clandestinidade, informalidade e irregularidade que se abateu sobre esse setor”, complementa. A OIT, o Instituto Ethos e a Abeim conversam para estabelecer processos de responsabilidade social que possam consolidar avanços no setor.
Paralelamente, os participantes do Pacto Contra a Precarização e Pelo Emprego e Trabalho Decentes se reuniram no auditório da Defensoria Pública da União (DPU), na última segunda-feira (3), para fazer avaliações e dar continuidade ao processo de articulação por melhorias para os trabalhadores do setor. Estiveram presentes representantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e das associações de coreanos, bolivianos e paraguaios, além do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, dos Sindicatos das Indústrias do Vestuário no Estado de São Paulo (Sindivestuário), do Serviço Pastoral do Migrante (SPM), do Centro de Apoio ao Migrante (Cami), da Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), da Receita Federal, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Comissão Municipal de Direitos Humanos (CMDH), da ONG Repórter Brasil e da Procuradoria Regional do Trabalho 2ª Região (PRT-2), na pessoa de Vera Lúcia Carlos, propositora dos TACs firmados com as redes varejistas.
Em Brasília (DF), a deputada federal Janete Capiberibe (PSB-AP) levou o caso aos colegas parlamentares em pronunciamento no Plenário da Câmara, no dia 7 de abril. Após fazer menção à fiscalização da oficina CSV, a congressista propôs boicote à Marisa “até que sejam garantidos os direitos trabalhistas de todos os colaboradores e melhor distribuição do lucro”.
Dois dias depois, o Sindicato dos Comerciários de Fortaleza (CE) organizou um protesto contra o trabalho escravo de imigrantes em frente à loja da Marisa no centro da capital cearense. Os sindicalistas chamaram a atenção de populares e distribuíram exemplares da edição do jornal Brasil de Fato que reproduziu conteúdo publicado pela Repórter Brasil.
De acordo com Romildo Miranda, do sindicato e da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), houve uma reunião com enviados da rede de varejo Marisa há cerca de 15 dias em que a questão foi tratada. “Segundo eles [da empresa], a questão foi resolvida. Mas não paramos por aqui. Se ficarmos sabendo de mais denúncias, voltaremos a nos mobilizar. Insisto mais uma vez: não paramos por aqui”, destacou o sindicalista.
Nenhum dos imigrantes que operavam máquinas na oficina CSV tinha Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada e pelo menos um deles sequer estava regularizado junto à Polícia Federal (PF). Segundo a fiscalização, um dos trabalhadores bolivianos não tinha 18 anos completos.
Foram apreendidos vários cadernos com anotações de “taxas” ilegais de “passagem”, “fronteira” e “documentos”) e registros de “salários” de R$ 202 e de R$ 247, menos da metade do salário mínimo (R$ 510) e menos de um terço do piso da categoria (R$ 766).
A estrutura (instalações elétricas, móveis etc.) da oficina não seguia os padrões mínimos exigidos. Uma criança, filha de uma das costureiras, estava exposta a acidentes com o maquinário. A jornada de trabalho começava às 7h e chegava até às 21h. As refeições eram preparadas improvisadamente nos fundos do mesmo cortiço do local de trabalho. O irmão do dono da oficina permanecia o tempo todo junto com os trabalhadores, atuando como “vigia”.
Em apenas um cômodo mal iluminado nos fundos de um dos “alojamentos”, construído para ser uma cozinha, sete pessoas dormiam em três beliches e uma cama avulsa. Infiltrações, umidade excessiva, falta de circulação de ar, mau cheiro e banheiros precários completavam o cenário. Não havia separação adequada das diversas famílias alojadas na mesma construção.
Na avaliação da médica e auditora fiscal Teresinha Aparecida Dias Ramos, que fez parte da comitiva e checou até a receita médica de uma das trabalhadoras que apresentava uma doença de pele, as vítimas de trabalho escravo na CSV estavam expostas a distúrbios respiratórios, problemas ergonômicos, e justamente a enfermidades dermatológicas, além das condições psicossociais indesejáveis, por causa do medo constante.
*O jornalista da Repórter Brasil acompanhou a fiscalização da SRTE/SP como parte dos compromissos assumidos no Pacto Contra a Precarização e pelo Emprego e Trabalho Decentes em São Paulo - Cadeia Produtiva das Confecções
Fonte primária: Repórter Brasil
Fonte secundária: Mercado Ético
Link: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/oficina-flagrada-no-caso-marisa-tambem-produziu-para-ca/
Saiba como ajudar as vítimas das cheias em Alagoas e Pernambuco
Os dois estados registraram 44 mortes por causa das chuvas.
Postos de arrecadação foram montados nos dois estados.
Vários pontos de arrecadação de donativos para as vítimas das chuvas foram montados em Alagoas e em Pernambuco. Nos dois estados, 44 pessoas morreram.
Alagoas:
- O Corpo de Bombeiros oferece duas contas para doações em dinheiro: Banco do Brasil, agência 3557-2, conta corrente 5241-8, e na Caixa Econômica Federal, agência 2735, operação 006, conta 955/6.
Maceió:
- 1º Grupamento de Bombeiros Militar (1º GBM) – Rodovia 316, Km 14, Tabuleiro dos Martins.
- Grupamento de Socorros de Emergência (GSE) – Conjunto Senador Rui Palmeira, S/N.
Subgrupamento Independente Ambiental (SGIA) – Av. Dr. Antônio Gouveia, S/A, Pajuçara. - Quartel do Comando Geral (QCG) – Av. Siqueira Campos, S/N, Trapiche da Barra.
- Defesa Civil Estadual (Cedec) - Rua Lanevere Machado n.º 80, Trapiche da Barra.
- Grupamento de Salvamento Aquático (GSA) – Av. Assis Chateaubriand, S/N, Pontal.
- Igreja de São Gonçalo, no Farol
- Instituto da Visão, na Avenida Santa Rita, no Farol
- Shopping Maceió
Interior:
- 2º Grupamento de Bombeiros Militar – Maragogi, (82) 3296-2026 (82) 3296-2026/3296-2270.
- 6º Grupamento de Bombeiros Militar – Penedo, (82) 3551-7622 (82) 3551-7622 / (82) 3551-5358 (82) 3551-5358
- 7º Grupamento de Bombeiros Militar – Arapiraca e Palmeira dos Índios, (82) 3522-2377 (82) 3522-2377, (82) 3421-2695 (82) 3421-2695
- 9° Grupamento de Bombeiros Militar – Santana do Ipanema e Delmiro Gouveia, (82) 3621-1491 (82) 3621-1491/ (82) 3621-1223 (82) 3621-1223
Pernambuco:
Recife:
- Instituto de Assistência Social e Cidadania do Recife (Iasc), localizado na Rua Imperial, 202, no bairro de São José.
- Associação Pernambucana dos Cabos e Soldados (ACS-PE) na rua Amaro Bezerra nº 489 - Derby - Recife.
- Posto de arrecadação instalado pela Polícia Militar na Quadra Poliesportiva do Quartel do Comando Geral, no Derby.
- Instituto Federal de Pernambuco - Av. Prof Luiz Freire, 500 Cidade Universitária.
Sede da Guarda Municipal, na rua dos Palmares, 550, em Santo Amaro. - CTTU, na rua Frei Cassimiro, 91, em Santo Amaro.
- Posto de Permanência da Guarda Municipal, no Terminal Marítimo.
Interior: - Gravatá - Secretaria de Ação Social, na Rua Francisco Bezerra de Carvalho, no centro.
- Barreiros - Posto da Polícia Rodoviária Federal na entrada da cidade.
- Caruaru - Sindicato dos Lojistas do Comércio de Caruaru (Sindloja), na Rua Leão Dourado, nº 51-A, no Bairro São Francisco.
Fonte: G1/São Paulo
Data: 21/06/2010
Link: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/saiba-como-ajudar-vitimas-das-cheias-em-alagoas-e-pernambuco.html
É hora de torcer e de entrar em campo pelo nordeste brasileiro.
Data: 23/06/2010
Neste momento, poderíamos aproveitar o gancho do mais recente fenômeno natural extremo que está acontecendo Nordeste brasileiro com chuvas intensas desde o último dia 18, atingindo os Estados de Alagoas, Pernambuco e parte da Bahia, para discutir se há alguma relação deste evento com as mudanças climáticas, com a ação antrópica, com os modelos de produção e consumo que praticamos entre outros assuntos relacionados. Ess é sem dúvida uma reflexção importante.
Porém, precisamos saber separar prioridades de emergências e a situação na região é de emergência. Por isso, neste momento nossa energia precisa estar em dimensão e atributos desse movimento da sustentabilidade. Este é o momento da ação, da fraternidade e do voluntariado. Agora é a hora em que precisamos da capacidade de articulação, das redes e da cooperação.
O inventário de problemas apresenta até o momento cenário bem grave. Cidades inteiras foram praticamente devastadas, casas e prédios públicos foram abaixo, o número de óbitos confirmados já está perto de 50 pessoas, cerca de 600 pessoas estão desaparecidas e mais 170 mil pessoas foram diretamente atingidas, sendo que o número de desabrigados já chega a perto de 100 mil pessoas.
Felizmente já temos movimentos articulados ou em processo de articulação, veja abaixo algumas informações a respeito. Além do "Movimento Solidário" outros estão acontecendo, por isso, para quem está mais distante e tem a intenção de colaborar, o jeito mais simples é buscar iniciativas já em andamento e fazer parte para fazer a diferença.
Podemos torcer pelo Brasil na copa, mas agora estamos precisando mesmo é torcer pelo nosso nordeste e mais, precisamos da nação brasileira em campo jogando a seu favor.
Organizações criam “Movimento Solidário” para ajudar desabrigados das chuvas no Nordeste.
Representantes empresas, entidades e instituições de ensino reunidas na manhã desta quarta-feira (23/06), na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), criaram um movimento unificado para atuar na arrecadação de donativos, triagem e encaminhamento aos órgãos estatais responsáveis pela distribuição.
O chamado Movimento Solidário irá colocar à disposição da população postos de arrecadação e centralizar o que for coletado na Faculdade Maurício de Nassau, na Ponta Verde, onde estudantes farão a triagem das doações. De lá, um caminhão cedido pelo Cesmac levará os donativos para a quartel do 59º Batalhão de Infantaria Motorizada (BIMTz), no Farol, que servirá como central de recepção das doações. Outras entidades disponibilizaram veículos menores para serem utilizados pelo Movimento.
Um comitê integrado por representantes de cinco entidades se reunirá diariamente na Faculdade Maurício de Nassau para traçar estratégias de atuação. Outro ponto importante da reunião foi priorizar os pedidos de doação de água mineral, produtos de higiene em geral e para parturientes e recém nascidos, utensílios de cozinha, botijões de gás, alimentos prontos para o consumo (enlatados e leite em caixa e em lata), roupas, sapatos, colchões, travesseiros, lençóis e agasalhos. A central do Movimento Solidário poderá ser contactada pelo telefone 3215 5240 (Sueli Maria).
A reunião contou com a presença do tenente-coronel José Cláudio Gomes e do tenente-coronel Carlos Roberto Santos, da Defesa Civil, que apresentaram aos presentes as principais necessidades enfrentadas e informaram como a ajuda poderá ser realizada. Segundo eles, as maiores dificuldades estão em fazer triagem das doações recebidas e transporte para as áreas atingidas. Eles também afirmaram que voluntários podem atuar na área de triagem, bastando para isso se apresentar à Defesa Civil.
O diretor-geral do Ministério do Desenvolvimento Social, Marcelo Resende, também participou da reunião. Segundo ele, o ato cívico de solidariedade das entidades é de fundamental importância para ajudar o governo a socorrer as vítimas das enchentes no Estado.
Os representantes da Defesa Civil lembraram que também são recebidas doações em dinheiro em duas contas abertas pelo Corpo de Bombeiros: Banco do Brasil, agência 3557-2, conta corrente 5241-8, e na Caixa Econômica Federal, agência 2735, operação 006, conta 955/6.
PONTOS DE COLETA:
- Associação Comercial de Maceió – Jaraguá
- Associação do Ministério Público Estadual – Jacarecica
- Cesama - Arapiraca
- Cesmac – Farol
- Clube da OAB – Jacarecica
- COC – Ponta Verde
- Colégio Galileu – Poço
- Creci – Farol
- Facima – Farol (ao lado do Extra)
- Fal – Jaraguá
- FAT – Via Expressa
- Fits - Jacarecica
- Igreja de São Gonçalo - Farol (e demais paróquias nos bairros)
- Maurício de Nassau – Ponta Verde
- Ordem dos Advogados do Brasil - Centro
- Sindicato dos Jornalistas de Alagoas - Prado
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Uma visão sobre lado otimista das catástrofes
Blog: Sustentabilidade em Movimento
Data: 16/06/2010
Mesmo que por vezes pareça quase impossível, precisamos encontrar otimismo em tudo que fazemos, sob pena de pararmos processos que na sua essência seguem em movimento, ainda que por vezes a coisa pareça uma enorme “maré negra manchada de óleo”. O incidente da BP que causou enormes danos, muitos ainda não mensurados, parece trazer uma vertente esperançosa.
O anuncio realizado ontem pelo presidente dos EUA Barack Obama, traz certa ênfase não apenas nas ações de indenização e reconstrução da bacia do Golfo prejudicada pelo acidente, como coloca em evidência a necessidade emergente dos Estados Unidos buscar fontes energéticas de baixo carbono e que ofereçam menor risco as pessoas e ao meio ambiente.
Segundo matéria da revista Época Negócios, versão on line, publicada hoje (16/06/2010), Obama em plano salão Oval da Casa Branca afirmou que em breve será possível recuperar cerca de 90% do petróleo derramado e a mais, enveredou esforços para esclarecer a sociedade norte americana sobre a criação de uma lei capaz de incentivar o desenvolvimento de fontes de energia alternativa.
Após resistências históricas e homéricas, parece que fato provocado com o acidente da BP fez a “água passar do pesco” da nação norte americana, e isso, a princípio está forçando um pouco mais os EUA a assumir um posicionamento diante da necessidade de se desenvolver uma econômica de baixo carbono.
Caso a proposta realmente avance teremos muito a comemorar, porque, o mundo ainda é “norteado” e, portanto, segue as tendências colocadas pela nação do norte. De qualquer forma lamentamos que muitos estragos tenham que acontecer para que algumas desafios da nossa sociedade avancem.
Quem sabe essa lição também nos inspire mais, precisamos criar uma cultura mais preventiva, pauta por uma ética mais coletiva, em que possamos agir sob os riscos e não após a efetivação do dano. Está ai um bom ponto de reflexão para pessoas a frente de políticas públicas e organizações empresariais para que possamos avançar ainda mais, nesse movimento para construção de uma sociedade mais justa, responsável e sustentável.
Obama promete conter na próxima semana 90% do petróleo do golfo
Americano se reúne com o presidente da BP para discutir fundo de ressarcimento de prejuízos
Por Agência EFE
WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou ontem que nas próximas semanas será possível recuperar 90% do petróleo que emana do poço da BP no Golfo do México. Em discurso à nação direto do Salão Oval, Obama buscou informar aos americanos do real estado da catástrofe, falar sobre eventuais ressarcimentos e esclarecer a ideia de uma nova lei de energia que incentive o investimento em fontes alternativas.
O presidente americano comparou o desastre com "uma epidemia", que não causa danos em questão de minutos ou dias. "Estaremos combatendo (a catástrofe) durante meses e anos", afirmou. Obama assegurou que seu governo combaterá as consequências do desastre durante o tempo que for necessário e que a BP terá que ressarcir por todos os danos causados.
E explicou que, desde o começo da crise, o governo federal lançou o "maior esforço de limpeza meio ambiental" da história do país, que conta com 30 mil pessoas em quatro estados para combater a maré negra.
Hoje, Obama se reunirá com o presidente da BP, a quem disse que dará instruções para que crie um fundo que compense os trabalhadores e empresários prejudicados economicamente pelo desastre. O fundo, como ressaltou, não será controlado pela BP, mas administrado de maneira independente.
Obama anunciou também um plano a longo prazo para a recuperação do Golfo do México, uma área que, como explicou, ainda não se recuperou totalmente do furacão "Katrina". O plano será arquitetado pelos estados, comunidades locais e residentes do golfo. O comando ficará com o secretário da Marinha, Ray Mabus, ex-governador do Mississipi, uma das regiões mais atingidas pelo petróleo.
O presidente americano disse ainda que o país deve trabalhar para evitar que um incidente do tipo aconteça de novo. E para isso, como frisou, foi criada uma comissão nacional para investigar as causas do desastre e dar recomendações sobre medidas a serem tomadas.
Fonte: Época Negócios (On line)
Link: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI147956-16381,00-OBAMA%20PROMETE%20CONTER%20NA%20PROXIMA%20SEMANA%20DO%20PETROLEO%20DO%20GOLFO.html
Data: 16/06/2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
O que o desastre da BP pode nos ensinar o sobre a tomada de decisão das pessoas nas organizações?
Blog: Sustentabilidade em Movimento
Data 09/06/2010
O desastre socioambiental ocorrido (abril/2101) no Golfo do México, em que teve como protagonista a corporação britânica Britsh Petroleum ou Beyond Petroleum (BP), mais uma vez coloca em cheque a forma como grandes organizações têm dialogado com as demandas da sociedade e o quanto estão ou não investindo realmente em modelos de negócios mais responsável, justo e sustentável.
Este foi um desastre de proporções catastróficas e ao que tudo indica deixará o episódio de 1989 com o Exxol Valdez (derramou mais de 40 milhões de litros óleo na costa do Alasca) para trás de longe. Sendo que ainda hoje a fauna marinha da região do Alasca sofre com o acidente ocorrido há mais de 21 anos.
Muito provavelmente o recente acidente com a plataforma Deepwater Horizon não será diferente. Após um incêndio que durou cerca de dois dias a plataforma explodiu, vitimando 11 funcionários e despejando sobre o mar milhões de litros de óleos (os dados oficiais estimam cerca de 5.000 barris diários). Ainda é cedo para precisar quão comprometida será a fauna marinha da região, mas com certeza não será em proporções irrelevantes e junto com esse comprometimento, muitas pessoas que vivem da pesca e de outros recursos e serviços ofertados pela vida marinha também serão seriamente prejudicadas. Atualmente pescadores da região deixaram seu principal ofício para trabalhar nas embarcações de contenção do óleo, expondo suas vidas e saúde a riscos desconhecidos.
A costa da Lousiana, provavelmente será a mais afetada. Inicialmente se estima um prejuízo nessa região de U$2,5 bilhões só com a indústria da pesca, além do impacto no turismo. No litoral da Flórida já se estima um prejuízo na cifra de U$3 bilhões.
O chefe de operações da BP, Doug Suttles, já declarou que a empresa tem gastado certa de U$6 milhões por dia para tentar limpar a mancha de petróleo que se arrasta pelo Golfo do México além de tentar conter o vazamento. No mercado de capitais as ações da BP já apresentaram quedas de mais 7% desde o vazamento.
Algumas declarações dos executivos da BP, de ex-executivos e de fontes da mídia alternativa trazem a tona que o risco de um acidente dessa natureza era alto e de conhecimento de muitos dos engenheiros e executivos responsáveis pela operação. A falta de manutenção e uso de material não apropriado para o tipo de operação foram apontados nos últimos relatórios anuais, mas pelo que tudo indicam foram ignorados por alguns tomadores de decisão e pelo visto, também por investidores (considerando a posição favorável que a BP tinha no mercado de capitais antes do acidente). Então, por que mesmo sabendo dos riscos a operação teve continuidade? Por que não se paralisou a operação até que os riscos fossem novamente gerenciados a quase zero?
Se medidas dessa natureza tivessem sido tomadas, poderíamos estar diante de um case de sucesso e não de um acidente. Estaríamos então diante um evidente caso de negligência empresarial? Diria que sim, mas não apenas, afinal organizações e empresas não são uma entidade etérea, sem cheiro, cor, carne, corpo e face onde podemos colocar toda a responsabilidade, até porque seria cômodo colocar a responsabilidade nesse ente etéreo. Como responsabilizar uma empresa neste caso? Só financeiramente? Isso seria uma medida suficiente? Uma organização só tem vida e existência porque tem pessoas fazendo a sua gestão e tomando decisões. Porque tem gente usufruíndo dos bens e serviços que a organização produtos e porque tem gente investindo na sua atividade.
É evidente que existiu uma negligência da BP, e ela está no fato de suas políticas e processos não terem sido suficientes para detectar as falhas existentes, como, por exemplo, o fato dos responsáveis ignorarem os relatórios operacionais que apontavam riscos eminentes, mas acima disso, temos a negligências das pessoas que tomaram suas decisões com base em valores frágeis no que diz respeito aos valores universais direitos humanos e da responsabilidade com a vida, isso sem contar a própria sustentabilidade financeira da organização, tendo visto o alto volume de recursos que foram e serão alocados para contornar o problema. Imagina todo esse recurso sendo empregado no desenvolvimento de novas tecnologias energéticas com capacidade de promover uma economia de baixo carbono? Ou mesmo na melhoria da operação da BP para torná-la mais eficiente e segura?
Existem muitas perguntas e muitas respostas podem soar simples. Até poderíam existir respostas simples, mas deixamos a coisa um pouco mais complexa, pois existem muitos elementos culturais e políticos que deixam qualquer resposta para questões dessa natureza complexa e de difícil resolução. Principalmente quando se observa toda a dinâmica econômica e social que há por traz da indústria do petróleo e mais, quando nos colocamos diante do problema e percebemos nossa forte dependência do insumo e seus derivados. Na mesma linha de raciocínio também não é simples de se explicar a nossa dificuldade em ter mais investimento em tecnologias para melhorar a eficiência energética das nossas máquinas e veículos em pleno século XXI. Como isso pode ser tão difícil se há muito tempo já conseguimos colocar o homem na lua? Com certeza não é por falta de inteligência e tecnologia.
Vivemos em uma sociedade com muitos paradoxos mal resolvidos.
Tão complexa é essa resposta que mesmo no auge do furacão, quando a BP ainda está tentando responder como irá minimizar os danos causados pelo acidente, seu executivo chefe também está realizando inúmeros malabarismos para assegurar duas respostas ao mercado: primeiro, assegurar a imagem de uma empresa solida capaz de suportar toda a pressão financeira; segundo de que tentará encontrar meios de remunerar seus acionistas e investidores a contento, mesmo com tantas outras prioridades. Sei que parece estranho, mas neste momento me pergunto se essa não deveria ser uma preocupação colocada em segundo o terceiro plano.
O bom senso me ajudaria a responder que sim, contudo, se o bom senso fosse observado, provavelmente a operação teria sido paralisada muito antes do acidente e não seria necessário fazer essa pergunta. A necessidade de justificar os dividendos segue a mesma lógica que boa parte das respostas que encontraremos para não paralisar a operação.
Contudo, nossas empresas e executivos estão cada vez mais responsáveis, a BP por exemplo, exemplo, que em um ato de extrema fraternidade e compromisso social por meio de seu CEO, Tony Hayward, anunciou que assumirá integralmente todos os danos decorrentes do acidente que forem comprovados e mais, segundo a matéria da UOL Notícias que acompanha esse comentário, a BP irá criar uma nova empresa só para administrar os danos decorrentes do vazamento. Será mesmo que estamos cada vez mais responsáveis? E nossas organizações? Nosso mercado de capitais? Por que todo esse cuidado não foi tomado antes? Não havia recursos para isso?
O mais irônico é que esse acidente aconteceu justamente com a BP, uma das pioneiras no segmento de Óleo e Gás a se rever e se posicionar diante da sociedade como uma empresa de energia e não apenas de extração e refino de petróleo e gás (não sei se alguém já viu alguma história parecida em algum outro lugar).
Não faz muito tempo que a BP assumiu publicamente a alto nível de contribuição do seu principal produto para o atual cenário de aquecimento global que vivenciamos. Assim, desde o início da década de 90, tem empreendido alguns esforços para se reposicionar como uma empresa de energia, buscando investir mais em fontes energéticas de menor impacto socioambiental, tendo seu relatório de sustentabilidade de 2006 reconhecido pelo GRI como um exemplo a ser seguido pelo setor. Neste relatório a BP ousou e abriu pontos sensíveis como demissões, desmatamento, emissões de CO2, explosão de uma refinaria e tudo isso com apresentação de detalhes e estatísticas.
Notem que no relatório de sustentabilidade de 2006 a BP já havia relatado um acidente grave em uma refinaria no Texas ocorrido em 2005. Estamos falando de cinco anos do último acidente grave ao de agora com a plataforma Deepwater Horizon e isso em meio a um grande esforço para tornar a BP reconhecida como uma empresa de energia mais responsável e sustentável em âmbito global. Então o que aconteceu?
Seria muita pretensão da minha parte querer responder prontamente a essa pergunta. Contudo, uma coisa eu posso inferir, nossas organizações empresariais sofrem de uma arrogância contraproducente e isso acaba somatizando sobre as pessoas que as representam, empresas e pessoas diante da necessidade de se mostrarem sólidas, auto-suficientes e agora sustentáveis, não trabalham bem os valores pessoais e organizacionais que poderiam fazer a diferença, não fazem um uso estratégico e adequado de ferramentas disponíveis como, por exemplo, o GRI (só para pountuar considerando que essa é uma ferramenta usada por eles) e não incorporam essas premissas na hora de decidir quais riscos podem e devem ser assumidos, quais processos precisam ser melhorados e o mais difícil, decidir quando é hora de rever alguns passos e re-orientar trajetórias, principalmente quando isso pode implicar em uma possível revisão na projeção de crescimento da empresa.
Como a sustentabilidade desejada é esse processo em movimento, portanto não temos todas as respostas e como ainda há tempo (pouco) de aprender com nossos erros, vou torcer e continuar trabalhando para que nossas organizações e nós enquanto profissionais que as representam, tenhamos a humildade de aprender com essa triste catástrofe e fazer diferente e melhor em novas oportunidades.
BP deve criar empresa para cuidar dos efeitos do vazamento no Golfo do México
Fonte: UOL Notícias
04/06/2010 - 14h12 / Atualizada 04/06/2010 - 14h29
Londres, 4 jun (EFE).- A companhia petrolífera britânica British Petroleum (BP) anunciou hoje que pretende criar uma empresa encarregada especificamente de cuidar das tarefas de reparação e fazer frente aos efeitos do vazamento de petróleo ocorrido em uma de suas plataformas no Golfo do México.
O executivo-chefe da empresa, Tony Hayward, precisou em uma teleconferência com investidores que a nova entidade será dirigida pelo responsável na América pela BP, Bob Dudley, que velará pelo cumprimento de "todas as obrigações" da companhia.
Hayward assegurou que a nova empresa não irá fazer "uma reorganização de ativos", só de pessoas, de modo que o trabalho de resposta à catástrofe no Golfo do México possa ser separado da atividade normal da companhia petrolífera.
O diretor reiterou o "compromisso total" da BP para resolver a situação criada pelo acidente do dia 20 de abril na plataforma Deepwater Horizon, em que 11 pessoas morreram e que deu lugar a um vazamento de petróleo de consequências extremamente graves para o meio ambiente.
Hayward assegurou que neste momento é impossível prever o custo total para sanar o desastre, que, além da reparação da plataforma, incluirá a limpeza do entorno e as correspondentes indenizações e multas, mas adiantou que será "pesado".
No entanto, especificou que a empresa, que calcula perder bilhões de dólares em petróleo devido ao derrame, se encontra em uma posição financeira "sólida", tanto em liquidez como em ativos, para fazer frente às reivindicações.
O Governo americano disse ontem à noite que vai enviar a BP uma primeira fatura de US$ 69 milhões pelas tarefas de limpeza na área do Golfo, que a companhia deve pagar antes do próximo dia 1 de julho.
Quanto ao pagamento trimestral de dividendos, um assunto que preocupa muito os acionistas e, em consequência, as bolsas de valores, assinalou que a empresa tentará encontrar "um equilíbrio" entre suas obrigações com os investidores e sua necessidade de destinar dinheiro para resolver o vazamento e investir no futuro da companhia.
"Faremos o possível para proteger o valor da empresa na qual vocês investem", disse Hayward aos acionistas, mas não pode precisar se será cobrado um dividendo no prazo previsto de 22 de julho.
O presidente da BP, Carl-Henric Svanger, presente na teleconferência, indicou por sua vez que até essa data a empresa irá decidir qual é a melhor maneira de distribuir os recursos, levando em conta a inquietação manifestada pelos investidores.
O executivo-chefe reconheceu que o acidente aconteceu porque uma série de "processos, sistemas e equipamentos" que deveriam ter prevenido o desastre não funcionaram.
Nesse sentido, disse que o acidente é um sinal de alerta para toda a indústria e lembrou que a BP investirá US$ 500 milhões em pesquisa para melhorar a segurança.
É importante "recuperar a confiança" dos empregados (80 mil no total, 30% dos quais está nos EUA), dos investidores (com 40% nesse país), da comunidade na zona do Golfo e em geral do mundo, já que disso depende o futuro da companhia, advertiu.
BP prometeu ir "além" do óleo, mas se afogou nele
EDITOR DE CIÊNCIA
Parece irônico que o desastre do golfo ameace levar à bancarrota justamente a BP. Afinal, a britânica foi a primeira petroleira a jurar que iria "além do petróleo".
Há uma década, numa iniciativa de marketing de US$ 200 milhões, a British Petroleum encurtou seu nome para a sigla atual e adotou o slogan "Beyond Petroleum".
A ideia era reconhecer que, sim, óleo e gás ainda eram necessários, mas eram coisa do passado: o futuro pertencia às energias renováveis, como a eólica e a solar.
O logo da empresa foi substituído por um ecológico girassol estilizado. E seu executivo-chefe, John Browne, chegou a se juntar com o Greenpeace em 2002 para pedir a George W. Bush que ratificasse o Protocolo de Kyoto.
Anos antes, a BP já se destacara das irmãs ao reconhecer que a mudança climática era real (enquanto a Exxon financiava ataques ao IPCC).
Mas, no chão, os atos da BP diziam outra coisa. A empresa fez lobby pela perfuração do santuário ecológico do Alasca no mesmo ano em que mudava o logo. Em 2006, foi processada pelo vazamento de 1 milhão de litros de óleo na tundra.
Em 2008, o mesmo Greenpeace que fazia coro antibush com John Browne tentou entregar a seu sucessor, Tony Hayward, o troféu "Pincel de Esmeralda", por considerar a BP campeã da propaganda enganosa verde.
Apesar do discurso ambientalista, a BP investia só 1,39% de seus fundos em energia solar e 93% (US$ 20 bilhões) em óleo e gás.
SEM PLANO B
Aparentemente, nem um centavo desse dinheiro foi gasto no desenvolvimento de um método para conter vazamentos em águas profundas. E nisso a BP não está só.
"O estado da arte da indústria do petróleo não tem procedimentos para estancar um vazamento a 1.500 metros de profundidade", diz o engenheiro Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação da Coppe-UFRJ.
Isso vale também para a Petrobras. Depois do derrame de 2000 na baía da Guanabara, a empresa tem cuidado mais da segurança, diz Estefen. "Mas ela segue as tendências internacionais."
A Petrobras, ao se preparar para explorar o óleo do pré-sal em águas muito mais profundas que as do golfo, a até 2.500 metros, tem uma chance de se adiantar às "tendências" no quesito segurança.
Já a BP, se tivesse agido de acordo com o próprio marketing, não teria perdido um terço de seu valor de mercado. Talvez ainda ostentasse o epíteto "Beyond Petroleum" hoje misteriosamente desaparecido de seu site.
Fonte: Folha.com
Data: 06/06/2010
Link: http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/746249-bp-prometeu-ir-alem-do-oleo-mas-se-afogou-nele.shtml
Uma história que a BP ainda não contou
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Segundo Robert Bea, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade da Califórnia, o problema começou com a própria área explorada, com um solo bastante instável e heterogêneo. A empresa, além de realizar a perfuração sem preparação técnica suficiente para contornar essas condições, teria concluído os trabalhos em muito pouco tempo, o que tornaria o projeto ainda mais passível de problemas. Bea já investigou mais de 20 vazamentos em plataformas de petróleo e foi contratado pela Casa Branca para ajudar na análise das causas do desastre do Golfo do México.
Outro problema apontado seria a falta de manutenção preventiva nos equipamentos subaquáticos. Ken Abbott, ex-gerente de operações na BP, afirmou que, na época em que trabalhava na companhia – há dois anos –, cerca de 89% das tubulações não eram checadas constantemente. Além disso, 95% dos equipamentos de extração nunca haviam sido verificados ou submetidos a testes depois que entraram em operação.
Abbott alertou a companhia sobre a necessidade da manutenção e o risco de acidentes, mas foi, segundo ele, “pressionado e repreendido” a abandonar essas ideias. Meses depois, foi demitido.
Outra polêmica levantada refere-se à vazão de óleo que vem sendo expelida desde o dia da explosão. A BP ainda não conseguiu estancar o vazamento que, segundo dados oficiais do governo e da própria companhia, alcança o correspondente a 5.000 barris diários. Mas cientistas estudaram as imagens do petróleo jorrando e deduziram um valor muito maior: estimam que 25.000 a 80.000 barris estejam sendo lançados no mar a cada dia. Esses últimos resultados corresponderiam proporcionalmente, em uma só semana, a dois acidentes como o da Exxon-Valdez, ocorrido em 1989 e considerado o mais grave da história petrolífera.
A BP tem se recusado a usar instrumentos mais sofisticados na detecção do volume de óleo em vazamento. Segundo Tom Mueller, porta-voz da companhia, “não podemos fazer qualquer esforço extra para calcular o fluxo lá neste momento. Não é relevante para o esforço de resposta, e pode até prejudicá-lo”.
O The New York Times reportou, na semana passada, uma enorme crosta de óleo em águas profundas com cerca de 16 km de comprimento, 5 km de largura e 90 metros de espessura, em alguns pontos. A descoberta dessas “bolhas” pode ser uma das provas de que o vazamento seja bem maior do que o anunciado pela BP e o governo. “Há uma quantidade enorme de petróleo em camadas múltiplas, três, quatro ou cinco camadas mais profundas da coluna d’água”, revela Samantha Joye, pesquisadora da Universidade da Geórgia.
O efeitos da concentração do petróleo já estão sendo sentidos pelas populações do litoral dos Estados Unidos, principalmente nos estados da Flórida, Alabama, Mississipi e Louisiana. Pescadores contratados pela BP para ajudar na captação e neutralização do óleo da superfície têm apresentado problemas de saúde decorrentes da alta exposição ao mineral. A BP assegura que não há necessidade de uso de respiradores ou outros equipamentos de proteção – mesmo com a forte atividade de vapores de hidrocarbonetos e dispersantes químicos pulverizados sobre o óleo.
A Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos, no entanto, tem medido constantemente a qualidade do ar em uma comunidade costeira da Louisiana e detectado que os níveis de substâncias tóxicas, como sulfeto de hidrogênio e benzeno, já excederam, em algumas áreas, o limite de segurança para a exposição humana.
Data: 24/05/2010 - 17:02:39
Fonte primária: Página 22
Fonte secundária: Mercado Ético
Link: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/uma-historia-que-a-bp-ainda-nao-contou
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Voluntariado: um olhar sobre a realidade brasileira
Muitas são as perguntas e não há uma resposta fechada e nem precisa necessariamente ter. Acredito ser mais proveitoso e eficiente focar na construção de algumas trilhas para construir novas perguntas e perspectivas, do que necessariamente se prender na busca por respostas.
Começando pela última pergunta. A todo o momento, quando falamos da construção do desejado desenvolvimento sustentável, evocamos a participação e co-responsabilidade de todos para superarmos os inúmeros desafios da sociedade, portanto, quando alguém se dispõe voluntariamente a fazer algo em prol do bem comum por menor que seja se feito, se este feito estiver alinhado com princípios universais de direitos humanos e atento aos interesses legítimos da sociedade já estaremos diante de um mundo melhor acontecendo.
Segundo definição das Nações Unidas "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos”. Portanto, não há regras para ser um voluntário, o que existe são princípios e os mais básicos são: se colocar a disposição do desejo de construir um mundo melhor; atentar para quem se quer fazer o bem para fazer bem; e buscar os interesses legítimos da sociedade, cuidando para que estes não sejam temerários aos princípios universais de direitos humanos, porque essa foi uma agenda que a sociedade mundial já convencionou como minimamente boa para todos.
“O voluntariado empresarial é um convite da pessoa jurídica à pessoa física para atuação conjunta e troca de experiências em prol do desenvolvimento sustentável numa ética de co-responsabilidade e de cuidado com a vida. É uma das formas de trabalhar a qualidade da relação com todos os públicos a partir de uma visão mais ampla de negócios que considerem interesses legítimos de todos. Voluntariado gera novos tipos de conexão que alimentam processos inovadores na rede de relações onde a empresa está inserida.” (Posicionamento da Txai Consultoria e Educação sobre o voluntariado corporativo).
Portanto, não há empresa voluntária, mas uma organização que identificou no voluntariado um jeito de contribuir com o desenvolvimento sustentável e na lógica da cooperação, elemento fundamental a sustentabilidade. Com isso, essa organização abre um convite para que seus colaboradores compartilhem desse desafio, tendo a chance de identificar no local em que trabalham e passam boa parte de seus dias, meios de explorarem o que há de melhor em seus valores pessoais e organizacionais, alcançando outras dimensões que não raramente também contribui para o desenvolvimento da sua atividade profissional e consequentemente, também contribui para o jeito de ser e fazer negócios da organização para qual trabalha.
Segundo dados do IBGE/2005, o Brasil contava com mais de 19.7 milhões de voluntários, sendo 53% homens e 47% mulheres.
Dados da pesquisa Ipso Marplan, realizada em 2004, com 50.250 pessoas, em nove centros urbanos, revelaram que os voluntários brasileiros apresentam altos índices de escolaridade, 43% possuem ensino superior completo, sendo que 23% alcançaram a pós-graduação. Nesta pesquisa as mulheres são maioria, com 53% do total, contra 47% de homens. (Fonte: Pesquisa Ipsos Marplan realizada com pessoas maiores de 13 anos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza).
Outra pesquisa aponta que 31% dos voluntários são jovens entre 18 e 34 anos. Além disso, a pesquisa aponta que no Brasil, calcula-se que cada voluntário disponibiliza cerca de 74horas anuais a atividades voluntárias, o equivalente à 6 horas mês.
Outro dado que chama atenção são às áreas de atividades preferenciais pelos voluntários: 53% prestam serviços de limpeza e infra-estrutura; 15% atuam na captação de recursos; 14% atuam em atividades religiosas e; 18% em atividades de ensino e treinamento, apoio psicológico e aconselhamento, cuidados pessoais e serviços profissionais em geral. (Fonte: Doações e trabalho voluntário no Brasil. Uma pesquisa. De Leilah Landim e Maria Celi Scalon).
Os dados acima deixam claro que há muita gente fazendo um mundo melhor acontecer, muita gente ajudando o outro sem olhar a quem, dados que nos faz ter fé esperança nas pessoas. Contudo, para quem trabalha com a mobilização de voluntários seja dentro ou fora de uma organização empresarial, precisar saber e entender quem são seus voluntários, isso pode ajudar a tirar o melhor de sua capacidade e desejo de contribuição. Essa é uma das razões pelas quais levantar dados como esses são importantes, assim como realizar o monitoramente e avaliação de programas de voluntariado. Prática que tem se intensificado no meio empresarial.
Sustentabilidade em movimento é isso, um processo de engajamento em que as pessoas começam a identificar seus espaços de contribuição, “arregaçam as mangas” em busca de uma sociedade mais justa, responsável e sustentável para todos em todos os lugares.
Fabiano Rangel
Sócio Consultor da Txai Consultoria e Educação
Data: 03/06/2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Empresas firmam compromisso contra exploração sexual
Embora possa parecer algo isolado, milhares de crianças e adolescentes ainda sofrem dia a dia com a violência sexual, prova disso, são os milhares de denúncias recebidas pelo Ligue 100, um serviço de denúncia da Secretaria de Direitos Humanos. Estamos falando de uma grave violação de direitos que pode acontecer em diversos lugares, de diferentes formas e com a participação ou conivência de diferentes atores, inclusive do meio empresarial.
Do meio empresarial? Muitos podem se perguntar o que empresas têm haver com tamanha brutalidade? Respondo eu, muito. Não que uma empresa vá diretamente abusar ou violentar sexualmente uma criança e adolescente, mas dependendo da sua atividade e a forma com gerência suas operações e seus colaboradores, pode em alguma medida favorecer ou simplesmente facilitar essa grave violação de direito, apenas se colocando indiferente ao problema. A matéria que segue abaixo torna essa leitura bastante prática e concreta.
Para além da construção civil que o foco da matéria, outras atividades empresariais podem oferecer risco maior a exploração sexual de crianças e adolescente, como por exemplo: o steor de transporte rodoviário, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços no entorno das estradas e rodovias, logística, portos marítimos, operadoras de turismo, redes hoteleiras, provedores de internet entre muitas outras.
Um dos grandes problemas para enfrentar esse grave problema social é que o tema ainda é visto com muito tabu, evitado pelas pessoas e consequentemente pelo meio empresarial. Organizações empresariais ignoram ou negam qualquer possibilidade de ocorrência de tal mazela na sua cadeia de valor. Quando isso acontece, quando o meio empresarial fecha suas portas para o diálogo e entendimento sobre essas questões, automaticamente está abrindo outra para que uma criança ou adolescente possivelmente tenha seus direitos fundamentais violentados e seu desenvolvimento comprometido.
“Se você é neutro em uma situação de injustiça você está do lado do opressor” (Desmond Tutu)
Não por outra razão que diferentes mecanismos de indução do mercado já estão incorporando a causa em seus processos de avaliação de uma gestão empresarial mais responsável e sustentável. São exemplos desses mecanismos o questionário de avaliação do Guia Exame de Sustentabilidade Empresarial (Editora Abril) e do Índice de Sustentabilidade Empresarial “ISE” (BMF/Bovespa).
Além destes mecanismos de avaliação da gestão empresarial, temos hoje O Pacto Empresarial Contra Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Estradas (www.namaocerta.org.br), uma iniciativa da Childhood Brasil (www.wcf.org.br) e Instituto Ethos de Responsabilidade Social (www.ethos.org.br) e agora a Declaração de Compromissos em Grandes Obras lançada pela Secretária de Direitos Humanos, uma iniciativa mais do que necessária em função do processo de expansão e desenvolvimento que o país está experimentando e que será intensificado pelo PAC, pela Copa do Mundo de 2014 e pelas Olimpíadas de 2016. Atrás de todo esse desenvolvimento há sempre um grande deslocamento de pessoas, na sua maioria homens e se essa questão não for bem gerenciada, muitas mazelas sociais também vão a reboque, entre eles a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Nossa expectativa e “torcida” é para que meio empresarial faça sua adesão a essas diretrizes e que a grande massa das empresas faça valer os compromissos assumidos.
Sustentabilidade é um processo em constante movimento, complexo e amplo que engloba os mais diferentes temas que primem pela saúde qualidade de vida e dignidade humana e da vida, portanto, novos temas e demandas surgem a cada dia e precisam ser incorporados por todos os atores que integram a sociedade.
Comentários: Fabiano Rangel
Data: 02/06/2010
Empresas firmam compromisso contra exploração sexual
BRASÍLIA - O enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes ganha mais um aliado. É a Declaração de Compromisso, a ser firmada por empresas responsáveis por grandes obras no país.
Uma articulação está sendo feita para que esse instrumento seja assinado e anunciado até o fim do mês, segundo informou a coordenadora do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, da Secretaria de Direitos Humanos, Leila Paiva.
Estudos comprovam que a existência de grandes obras, como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e mesmo da Copa do Mundo, em áreas urbanas agrava a exploração sexual, principalmente de crianças e adolescentes. “Onde há um grande contingente masculino, migra uma série de redes de exploração que acabam tornando alvo crianças e adolescentes, porque são também alvos mais fáceis”, diz Leila Paiva
De acordo com ela, essas obras são extremamente necessárias, mas podem ter o impacto reduzido com a implementação de uma série de ações a serem desenvolvidas junto com a Comissão Especial de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. A Declaração de Compromisso, que também vem sendo chamada de Código de Ética, é a primeira delas.
A coordenadora espera que as empresas assinem o documento, a exemplo do que ocorreu na área de turismo. “Nós vamos integrar a declaração a instrumentos ou códigos éticos que já existem na empresa para pautar a questão do enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes”, enfatiza.
Em um segundo momento serão realizadas campanhas voltadas especificamente para os trabalhadores das obras, sensibilizando, mas também mostrando a legislação e quais são os mecanismos de repressão que existem para reduzir o problema.
A psicóloga Valéria Brahim, gerente de Programas sociais da Associação Brasileira Terra dos Homens , com sede no Rio de Janeiro, instituição parceira no projeto da Secretaria de Direitos Humanos, acredita que a exploração sexual é um tema invisível que precisa ser debatido com a sociedade.
Para ela, as empresas estão cada vez mais voltadas para a responsabilidade social. “ Se nós inserirmos esse tema na pauta das empresas, trabalhando em conjunto com a sociedade civil organizada e o governo o que está acontecendo dentro desse projeto, temos como solucionar ou pelo menos minimizar os efeitos dessa situação”, ressalta.
Pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que no Norte do país, a questão da exploração sexual é um problema ainda maior, principalmente pelas chamadas fronteiras secas, e também no Sul, no entorno de Foz do Iguaçu, na Tríplice Fronteira.
Valéria Brahim esclarece que apesar de Foz de Iguaçu não estar recebendo uma nova obra, “existem impactos que vieram desde as obras de Itaipu. São locais em que percebemos grande impacto da exploração sexual”, afirma.
Em sua opinião, é necessária uma campanha com funcionários de canteiros de obras, principalmente aqueles que usam a menina como mercadoria.
Para denunciar a exploração sexual de crianças e adolescentes, a população tem o serviço Disque 100 ou os conselhos tutelares da região. Quando a situação de abuso for visível, pode contar ainda com a força policial.
O dia 18 de maio foi instituído pela Lei Federal 9970/00 como Dia Nacional de Luta Contra o Abuso e a Exploração sexual. A data foi escolhida para lembrar a morte, em 1973, em Vitória (ES), da menina Araceli, de apenas oito anos. Ela foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada e os responsáveis, jovens de classe média alta, ficaram impunes.
Fonte: DCI
Data:18/05/2010
Link: http://www.dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=3&id_noticia=327580