sexta-feira, 25 de junho de 2010

Onde está a eficiência empresarial?

Por: Fabiano Rangel – Blog Sustentabilidade em Movimento
26/06/2010

Profissionais a frente das empresas se vangloriam de uma racionalidade empresarial para justificar decisões difíceis ou polêmicas, tudo em nome de eficiência empresarial quase dogmática, mas que na prática vejo pouco dessa eficiência, independente do ângulo que se queira observar.

Minha inspiração para esse post veio de duas fontes:

  • A primeira foi quando presenciei em uma empresa que para contratar um serviço de pequeno porte, precisou enviar quase 500 folhas de papel branco com contratos impressos. Isso ocorreu porque a empresa tem uma estrutura organizacional complexa, onde uma holding é responsável pela gestão direta de mais de 10 empresas e precisa ratear proporcionalmente a contratação dos serviços institucionais que contrata por todas empresas do grupo, assim, cada empresa precisa emitir um contrato, mesmo que o valor contratado não ultrapasse a R$100,00 no processo de rateio. Imagine quantos fornecedores esta empresa tem? Qual o impacto desse procedimento na alocação de profissionais e recursos e serviços naturais (papel, tinta, energia para impressão, correio ou outro meio de transporte...)? O mais curioso é que estou falando de uma organização com bom posicionamento e até práticas com atributos de sustentabilidade. Então o que acontece? Por que a existência de procedimentos tão antagônicos?
  • A segunda fonte de inspiração foi um diálogo que participei no linkedIn, por meio de um grupo de discussão que integro “Sustentabilidade Brasil” em que um dos participantes postou uma provocação interessantes sobre Planejamento estratégico e Sustentabilidade nas organizações. Neste post o participante citou uma pesquisa interessante realizada em 1999 com 100 empresas brasileiras pela Symentics, mostrando que somente 10% das estratégias empresariais são implementadas com sucesso. Sendo que os motivos para o insucesso dos outros 90% estavam atrelados a 4 barreiras:
  1. Visão: somente 5% do nível operacional compreendem a estratégia da organização;
  2. Pessoas: somente 25% do nível gerencial possuem incentivos vinculados ao alcance da estratégia.
  3. Recursos: 60% das empresas não vinculam recursos financeiros à estratégia;
  4. Gestão: 85% dos gestores gastam menos que 1 hora por mês discutindo estratégia.

Diante desses dados e fatos, somado ao que vejo nas organizações, fico com a impressão de que as pessoas a frente das empresas acreditam ser capaz de dar conta de tudo e de todos sem ao menos ouvir alguns poucos, e, quando se coloca uma lupa para identificar as bases com que as decisões foram tomadas, em especial as estratégicas, fico com a percepção que na maioria dos casos há pouco base, sobrando uma certa arrogância quase onipresente em boa parte das organizações. Como efeito reflexivo, o que vejo é um conjunto de decisões desajustadas, fragmentadas, esquizofrênicas, desenfreadas e na maioria dos casos unilaterais, em especial quando se compara com a posição institucional da organização representada por este ou aquele profissional.

Deste entendimento me vem uma indagação básica. Quem são as empresas? Até onde sei, são feitas de pessoas. São pessoas aglutinadas em torno de um objetivo comum que fazem a empresa, conduzem sem jeito de ser e fazer negócios. Além disso, empresas geralmente são orientadas por um posicionamento, uma estratégia e uma cultura organizacional. Então onde está o problema para tantos desajustes? Não tenho bagagem nem condições de responder a essa pergunta, mas fico com uma forte impressão que as organizações estão frágeis em termos de cultura organizacional e sem isso, não há posicionamento e estratégia que se sustente.

Isso não é uma leitura em defesa das empresas, mas um convite para que os desafios sejam observados de forma mais integra e sistêmica. Uma empresa, agora sim olhando para a representatividade e responsabilidade institucional ao permitir que seus profissionais tomem decisões desajustadas a sua estratégia e identidade, ainda que de forma unilateral, é no mínimo culpada pela conivência e deve amargar os ônus de eventuais efeitos adversos.

Em resumo, o que percebo nas estruturas organizacionais são processos extremamente desalinhados a qualquer estratégia ou identidade organizacional com inúmeras justificativas. Em nome de muitas coisas (que não dá para listar aqui) as pessoas decidem como querem, mesmo sabendo que não é a decisão mais ajustada a qualquer planejamento estratégico ou identidade da organização. Assim como fazem muitos políticos diante da democracia representativa e que tanto criticamos (na maioria das vezes com razão), mas não percebemos que dentro das organizações empresariais que representamos, padecemos de equívocos muito semelhantes.

Infelizmente as patologias organizacionais somente são diagnosticadas quase no estado terminal da coisa ou quando o sintoma é evidente demais, que a beira o colapso, como foi o caso da BP com o derramamento de óleo, da WordCom, Enro, Sadia, Lojas Marisas, C&A, Petrobrás, Cataguaze Celulose, entre tantos outros exemplos que poderiam ser listados.

Não vejo isso como uma questão exclusiva de um ou outro segmento do mercado ou da economia. Acredito que essas questões perpassam toda e qualquer organização empresarial, porque está nas pessoas e na cultura organizacional que é impressa.

Também não sei dizer se evoluímos, como provoca o post da comunidade do LinkedIn que me inspirou a escrever sobre essa tal “Eficiência Empresarial”. De verdade penso que não, e, se sim, acredito que muito pouco (exemplo: alguém se lembra do comportamento dos Executivos da GM diante da crise? Cortavam funcionários massiçamente e foram de jato particular pedir dinheiro ao governo americano. Onde está a eficiência dessa decisão? E a integridade?). Contudo, em alguma medida tenho percebido algumas organizações empresariais aprendendo com seus erros, exemplo, a C&A com trabalho escravo (só para pontuar) e outras cada vez mais reforçando uma gestão fortemente pautada em seus valores organizacionais.

Quem sabe onde está a eficiência empresarial? Acredito que nas pessoas e que é nessa direção que precisamos nos orientar.

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