quinta-feira, 24 de junho de 2010

O problema está só nas grandes cidades? E nossa cultura organizacional?

Matérias como a que segue abaixo, devem nos inspirar e ajudar a avançar com discussões ainda marginais, mas extremamente importantes para a construção de uma sociedade mais justa, responsável e sustentável.

Além das questões urbanísticas a serem resolvidas com a maior brevidade possível, também precisamos incluir no bojo dessa discussão questões legislativas, por exemplo, a reformulação das atuais leis trabalhistas e questões culturais, em termos de organização do trabalho e gestão de pessoas. Afinal, ainda somos regidos e gerenciamos organizações como no início da revolução industrial.

Como assim? Simples. Uma cidade como São Paulo tem hoje uma atividade econômica pautada na sua maioria pela prestação de serviços, que na maioria dos casos podem ser muito bem realizados a qualquer hora e de qualquer lugar, basta um computador, uma banda larga, um telefone e um bom softwer de gerenciamento (caso a organização queira se sentir no controle).


Já passamos há algum tempo da época em que grandes metrópoles como São Paulo, viviam da produção industrial com processos em linha e que demandava pessoas trabalhando mecanicamente em um mesmo lugar (nossos tempos modernos já são outros). Atividades dessa natureza estão sendo cada vez mais transferidas para cidades distantes das capitais e metrópoles, atraídas por questões logísticas ou em busca de trabalhadores mais baratos e incentivos fiscais de ordens diversas .

Mesmo assim, ainda organizamos o trabalho nas grandes, médias e pequenas empresas sediadas em metrópoles de forma concentrada e com horários rígidos, onde os funcionários precisam estar presentes 8hs por dia (todos no mesmo horário) e 5 ou 6 dias por semana. Contudo, na prática, sua capacidade produtiva chega no máximo a 6 horas dia (sendo otimista).

Com esse modelo, desperdiçamos em média 2hs por dia no mínimo com o uso ineficiente de energia (iluminação, computadores e ar condicionados). Além do desgaste das pessoas com deslocamento em termos de tempo e do uso ineficientes de recursos naturais com o combustível gasto também de forma inadequda, porque ônibus rodam invariavelmente com sobrepeso, carros com peso de menos e ambos com velocidades reduzidas e em constante e processo de aceleração e desaceleração, momento em que o consumo de combustível é maior no veículos a combustão.

Será que um dia vamos atingir a maturidade necessária para rever nosso modelo organizacional de trabalho? Isso, já seria um jeito de contribuir e aliviar algumas questões urbanísticas, sem a necessidade de investimentos vultosos. Boa parte das empresas de tecnologias, inspiradas em suas matrizes fora do Brasil já estão dando passos significativos nessa direção e não por esse motivo, vejo ou leio notícias de que estão enfrentando problemas financeiros ou de produção.

Rever esses modelos ou no mínimo encarar a discussão de frente, nos ajudará a ir muito além das questões ambientais (necessárias e emergências). Essa discussão também guarda enorme relevância com outras questões que estão presente nas pessoas, ou melhor na diversidade de pessoas e condições de vida que compõem nossa sociedade.

Horários flexíveis ou home officer, por exemplo, pode melhorar a inserção e manutenção com mais qualidade das mulheres no mercado de trabalho, dar chances aos homens de experimentar outros papéis e responsabilidades em casa com mais participação na educação dos filhos e até mesmo na organização das suas atividades de lazer e ócio. Fato que por si só, já movimentaria e bem outros setores da economia.

Será que conseguimos avançar? Tenho a fé e o desejo que sim. Não há aqui respostas prontas, mas uma boa reflexão para construirmos perguntas e com isso, colocar essa ideia de uma sociedade mais justa, responsável e sustentável a diante em todos os ambientes.


UMA MULTIDÃO EM MOVIMENTO





  • Todos os dias os paulistanos fazem 38 milhões de viagens


  • Nos últimos dez anos, as viagens de São Paulo cresceram 20%


  • 55% das viagens em São Paulo são feitas com transporte coletivo


  • A velocidade média de locomoção por transporte motorizados na cidade de São Paulo é 12 km/h


  • A população de São Paulo cresceu 16% nos últimos dez anos e atingiu 20 milhões de habitantes


  • Cada pessoa passa, em média, duas horas se deslocando por dia em São Paulo


  • Mais de 250 mil pessoas circulam diariamente pela estação da Luz
Todo dia, de manhã, a cidade de São Paulo empreende uma imensa operação logística: transporta por dezenas de quilômetros o equivalente à população de um país inteiro (como o Uruguai). Aí, quando cai a noite, ocorre o reverso: é hora de devolver milhões de pessoas às suas casas.

A distribuição espacial de São Paulo desafia a lógica: a economia está toda concentrada no chamado "centro expandido", a região em volta do centro velho, entre os rios Tietê e Pinheiros. É lá que ficam os empregos, é lá que está o comércio, é lá que está a maior parte da população rica.

Mas as pessoas moram bem longe de lá: nas periferias distantes, cuja população não para de crescer (enquanto a do centro expandido não para de diminuir). "Em 10 anos, o centro expandido perdeu 400.000 habitantes, enquanto alguns bairros da periferia, como Perus e Itaim Paulista, crescem 10% ao ano", diz Soninha Francine, ex-candidata a prefeita pelo PPS.

Esse processo tem origens históricas. São Paulo era uma cidadezinha de 30.000 habitantes em 1870. Virou para o século 20 crescendo astronomicamente, mas ainda tinha só 240.000 pessoas. Atingiu o primeiro milhão nos anos 1930, o segundo nos anos 1940, o terceiro nos 1950, o quarto e o quinto nos 1960, o sexto, o sétimo e o oitavo nos 1970. Enfim, cresceu muito rápido, rápido demais. "Talvez tenha sido a mais rápida taxa de crescimento de uma grande cidade em toda a história da humanidade", escreveu o pesquisador americano Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.

Esse crescimento foi se dando em anéis. Cada camada de gente se acumulava mais longe do centro. "O anel viário é apenas a continuidade dessa história antiga", diz a urbanista Raquel Rolnik, da USP. "O anel viário força a cidade ainda mais para fora", diz Raquel.

Resultado: a área metropolitana da Grande São Paulo tem mais de 50 quilômetros de extensão de leste a oeste. É distância demais. São Paulo é um lugar onde quase todo mundo "mora longe". Em média, o paulistano leva 2h40min no caminho entre a casa e o trabalho, ida e volta. Isso dá um mês por ano parado no trânsito ou apertado no ônibus. E essa é apenas a média: está cheio de gente que gasta o dobro do tempo ou mais. Está aí a explicação para os mais de 10 milhões de toneladas de carbono ou equivalente emitidos na cidade pela queima de combustíveis fósseis – dois terços do total das emissões municipais.

É claro que, se tivéssemos mais carros a álcool, mais transporte público, mais bicicletas, a situação melhoraria. Mais importante ainda seria investir alto em criar infraestrutura para sistemas de transporte de carga de baixa emissão – fazer ferrovias e hidrovias, como a que está em projeto e ligaria o porto de Santos ao Rio Tietê. Mas o problema central é outro: São Paulo precisa aprender a se deslocar menos. Precisa melhorar a logística, que é muito ineficiente (46% das viagens dos caminhões é sem carga). Precisa de mais empregos na periferia e de mais residências no centro expandido. Principalmente residências populares: para que os garçons, as empregadas domésticas, os seguranças noturnos não tenham que atravessar a cidade para ir trabalhar. Precisa crescer para dentro, em vez de para fora do anel viário.

Uma solução é incentivar o surgimento de novos pólos econômicos – como o do Jacu-Pêssego, na Zona Leste, que está em plena implantação. Outra é investir em povoar o centro, com projetos como o Nova Luz, que está reurbanizando toda uma zona degradada no centro da cidade. O bairro da Barra Funda, lá perto, também deve em breve ser reurbanizado, e as recentes declarações do prefeito Kassab sobre a demolição ou a desativação do Minhocão sugerem que a prefeitura leva a ideia a sério. A cidade também poderia desincentivar a existência de imóveis vazios ou pouco ocupados no centro. E São Paulo está cheia deles (veja o ensaio fotográfico). "No último levantamento que fiz, havia 200 prédios vazios no centro, além de 250 estacionamentos, que poderiam ser subterrâneos e dar espaço para prédios residenciais de alta densidade", diz o urbanista Nabil Bonduki, professor da USP e ex-vereador pelo PT.

Como fazer isso? O caminho mais curto é pelo bolso. O novo plano diretor da cidade instituiu o IPTU progressivo para imóveis de "interesse social" que estejam sendo subutilizados. Funcionaria assim: imóveis que ficam em áreas que precisam de mais moradores (como o centro) teriam o prazo de um ano para se adequar. Se não o fizerem, a alíquota do imposto dobra a cada ano, até chegar a proibitivos 15%. Isso forçaria os proprietários a darem um uso para os imóveis. A lei aguarda regulamentação para entrar em vigor, mas a Câmara paulistana tradicionalmente não tem pressa em votar leis que punem proprietários de imóveis.

Fonte: Site do Estadão.com: Isso não é normal
http://www.issonaoenormal.com.br/post/uma-multidao-em-movimento

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Ola Fabiano estava navegando na internet quando me deparei com esse ótimo artigo, e aqui estou deixando meu comentário. Abraços

    Hoje algumas empresas adotam o chamado TRABALHO REMOTO. É uma maneira do profissional desempenha suas atividades com qualidade remotamente e ao mesmo tempo pela internet com eficiencia, ou seja, em sua própria casa. Algumas dessas empresas tem essa conciencia e sabe que a sua inserção e manutenção e minima porque alem da organização das suas atividades você reduz custo, economiza tempo e contribui com o meio ambiente.

    ResponderExcluir