quinta-feira, 8 de julho de 2010

ADMIRÁVEL MUNDO VELHO

O texto que segue, pode parecer meio desconectado da proposta deste blog, porém, lendo atentamente será fácil perceber que não é.

Isso porque o texto traz uma forte reflexão sobre o que realmente importa a vida. E falar de sustentabilidade não é isso? Todo tempo quando falamos da sustentabilidade vista como um processo em movimento, estamos colocando em questão modelos e estruturas de sociedade, refletindo sobre como satisfazer as diferentes necessidades, nos diferentes cenários e com os mais diversos atores.

Em suma, buscando identificar aquilo que realmente importa a vida e a construção de condições dignas, justas, responsáveis e sustentáveis a vida de todos em todos os lugares.

Foi com essa reflexão que fiz minha leitura do texto que segue abaixo, e, por isso, acredito que ele tem muito a nos dizer neste espaço. Boa leitura!

ADMIRÁVEL MUNDO VELHO

Por Beto Volpe
Fonte: Blog Aids e Deficiência 2010
Link: http://aidsedeficiencia2010.blogspot.com/p/como-e-que-e-coluna-de-beto-volpe.html

Está atrasado quem pensa que o mundo está mudando. Ele já mudou. É outro, completamente diferente, com tantas inovações que sequer imaginávamos desfrutar. Quem é de minha época lembra que somente o Capitão Kirk e a tripulação da Enterprise usavam telefones portáteis do tamanho da palma de suas mãos.

O desejo Divino de união da raça humana teve um grande reforço com a rede mundial de computadores e todos os benefícios dela advindos. Mas algumas coisas parecem não mudar ou as mudanças estão acontecendo em ritmo muito mais lento do que a ciência. A vulnerabilidade da mulher nas relações afetivas é uma das mais tristes constatações de que vivemos um admirável mundo velho. Um mundo onde os avanços tecnológicos nos permitem ter a real noção do quanto ainda guardamos dos tempos da barbárie.

Os noticiários do país não conseguem mudar de pauta. São Eloás, Mércias e Elizas que diariamente inundam nossas vidas de tristeza e, a despeito dos valores envolvidos, encontraram no amor um cruel caminho para seu fim. Cruel porque esse caminho teve a traição e a violência como principais características, seja ao mantê-las confinadas em um apartamento sob a mira de um revólver, seja covardemente lançando o carro em uma represa, seja ardilosamente propondo um acordo para uma suposta paternidade. E a morte trágica e solitária como destino comum.

Não há como negar que mudanças aconteceram no âmbito social. Maria da Penha mostrou o caminho e hoje muitas mulheres se valem de diversos recursos para que seus direitos como seres humanos sejam respeitados por quem vive ou viveu a seu lado. A livre manifestação de pensamentos continua sendo a maior aliada para a expansão e garantia desses direitos, mas algo mais mudou. O TER parece ter vencido a batalha contra o SER.

Não importa o que eu seja, importa ter meus desejos satisfeitos. E se o outro estiver no caminho deles, é natural que eu passe por cima desse outro da forma como for mais conveniente para mim. Eu tenho uma namorada. Eu tenho mulher e filhos. Eu tenho. E já que tudo me pertence, é meu direito dispor e descartar quando eu bem entender. E assim convivemos com situações que, de tão terríveis, nos parecem saídas de um filme de terror classe B, muito diferentes das perspectivas anunciadas pela série Jornada nas Estrelas.

A diferença é que estamos dentro da tela e não mais na platéia. E, mesmo fazendo parte da produção, não estamos conseguindo mudar o final desse filme. Um filme que, de tantas vezes visto, passa perigosamente a fazer parte de nossa rotina. Assim como as viagens espaciais os telefones celulares, a internet e outras maravilhas de um mundo novo ainda nada admirável.

Beto Volpe

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