quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Estado do Mundo 2010 – Uma leitura em 298 páginas

Por: Fabiano Rangel – Blog Sustentabilidade em Movimento

Em parceria com WWI (http://www.worldwatch.org.br/) o Instituo Akatu (http://www.akatu.net/) lançou ontem, 30/06 a versão em português do relatório “Estado do Mundo-2010”. A publicação com 298 páginas é considerado um dos mais importantes periódicos mundiais sobre sustentabilidade.

O lançamento oficial da publicação foi realizado no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura, localizado no Conjunto Nacional da Av. Paulista. O lançamento ainda contou com um debate com as participações de Eduardo Athayde (WWI), Ricardo Abramovay (FEA-USP) e Lívia Barbosa (ESPM), mediados por Helio Mattar (Akatu). Acredito que a discussão deve ter sido muito rica e lamento muito por ter perdido.

O relatório é produzido periodicamente pela Worldwatch Institute (WWI), organização sediada em Washington (EUA) e traz anualmente um balanço com números atualizados e reflexões sobre as questões ambientais.

Com o tema “Transformando Culturas – do Consumismo à Sustentabilidade” o relatório de 2010 coloca perante a sociedade uma discussão central, que é a revisão de um modelo cultural que criamos e naturalizamos na atual concepção de sociedade em busca de bem estar e felicidade. Uma discussão extremamente necessária se realmente queremos buscarmos novos paradigmas para construção de uma sociedade mais justa, responsável, equilibrada e assim com mais condições de se sustentar.

Discutir consumo e sustentabilidade é trazer a mesa uma complexidade ímpar, da qual infelizmente acredito que ainda não estamos preparados. Digo isso não pelos conceitos, teorias, dados e produção científica, porque nesse campo acredito que já evoluímos bem, mas porque essa discussão passa por questões ideologias, criadas no passado e sedimentadas na atual sociedade. Naturalizamos um ideal de bem estar que deixa muita gente às margens da sociedade.

Além disso, essa discussão passa também por concessões em busca de mais equilíbrio na balança que compõe as necessidades básicas de cada indivíduo na sociedade. Questões como essas, na sua maioria são recheadas de respostas vagas e/ou paradoxais.


Afinal, quem de nós está disposto a rever seu ideal de felicidade? Mesmo sabendo que em nome dele muita gente paga uma conta excessiva. Quem de nós está aberto a concessões? Que sociedade, governo e agentes econômicos estão realmente preparados e dispostos a privilegiar um modelo de desenvolvimento integral sustentável, ainda que em detrimento de qualquer projeção de crescimento do PIB ou valor de mercado?

Haja vista a última COP15 e as razões pelas quais muitos governantes titubearam diante das metas de redução das emissões e isso diante de evidências científicas, ou seja, “da voz da razão” que tanto buscamos.

Contudo, por uma razão ou por outra não será mais possível fugir dessa conversa e das posições que precisamos tomar. A versão 2010 do relatório o Estado Mundo só reforça as evidencias científicas e a necessidade de uma emergente revisão de valores, cultura e padrão civilizatório.

Dados do relatório.

Na última década, a humanidade aumentou seu consumo de bens e serviços em 28%. Somente em 2008, foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares.

Tantos bens não surgem do além, é preciso usar cada vez mais recursos e serviços naturais para saciar esses desejos e o pior, não só usamos muito, como em nome das margens de custo e lucro usamos mal. Entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, 14 vezes. Segundo o relatório, atualmente um europeu consome em média 43 quilos em recursos naturais diariamente e um americano consome 88 quilos.

Tão grave quanto o consumo é a desigualdade dele.

Em 2006, os 65 países com maior renda somam apenas 16% da população mundial, mas foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços. Somente os americanos, com apenas 5% da população mundial, abocanharam uma fatia de 32% do consumo global.

A festa já perdeu a dimensão, já não sabemos direito onde estão os cacos e como juntá-los, tamanha é a proporção do estrago. Hoje nem mesmo se os 7 bilhões de habitantes do planeta adotassem um padrão de consumo médio equivalente ao de países como Tailândia ou Jordânia, seria suficiente para atender igualmente todos os habitantes do planeta. "Desigualdades e ineficiências anda juntas como irmãs siamesas".

Diante deste cenário o relatório traz uma conclusão que beira o apocalipse. Parafraseando Fernando Pessoa, caminhamos como se fossemos um cadáver vivo. Estamos inerte ao tamanho dos desafios que nos assolam. Segundo o relatório, se mantivermos o atual padrão de consumo os riscos ambientais e de mudanças climáticas são eminentes e inevitáveis, por isso, precisamos urgentemente de uma revisão dos valores introjetados, que seja capaz de fomentar uma nova cultura, uma que traga dimensões mais humanas de felicidade e menos dependente do consumo desmedido.


O relatório pode ser baixo na íntegra no site do Instituto Akatu, pelo link: http://www.akatu.org.br/akatu_acao/publicacoes/reflexoes-sobre-o-consumo-consciente/estado-do-mundo-2010-transformando-culturas-2013-do-consumismo-a-sustentabilidade

Com dados e informações extraídos do site do Instituto Akatu
Data: 01/07/2010

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