Por que diversos produtos considerados polêmicos ou mesmo vilões do aquecimento global ainda encontram espaço no mercado?
Por Rosenildo Gomes Ferreira
A gigantesca mancha de óleo que ameaça a costa sul dos Estados Unidos mostra com exatidão como uma atividade econômica pode se transformar em vilã do meio ambiente. A catástrofe, causada pela explosão de uma plataforma de petróleo da British Petroleum, entrará para a história como um dos maiores desastres ambientais da era moderna.
Mas nem por isso deverá decretar o fim da companhia. Afinal, apesar de o “ouro negro” ser o principal causador do aquecimento global, ele continua sendo muito consumido. Mas por que o petróleo, assim como outros produtos considerados “sujos”, ainda encontra espaço em um mundo marcado pelo crescimento da consciência ambiental? Porque há uma força maior do que o apelo ecológico: “O preço competitivo em relação às opções mais sustentáveis garantem a sobrevida deles”, opina João Paulo Altenfelder, sócio da Sei Consultoria, especializada em projetos de sustentabilidade.
Por Rosenildo Gomes Ferreira
A gigantesca mancha de óleo que ameaça a costa sul dos Estados Unidos mostra com exatidão como uma atividade econômica pode se transformar em vilã do meio ambiente. A catástrofe, causada pela explosão de uma plataforma de petróleo da British Petroleum, entrará para a história como um dos maiores desastres ambientais da era moderna.
Mas nem por isso deverá decretar o fim da companhia. Afinal, apesar de o “ouro negro” ser o principal causador do aquecimento global, ele continua sendo muito consumido. Mas por que o petróleo, assim como outros produtos considerados “sujos”, ainda encontra espaço em um mundo marcado pelo crescimento da consciência ambiental? Porque há uma força maior do que o apelo ecológico: “O preço competitivo em relação às opções mais sustentáveis garantem a sobrevida deles”, opina João Paulo Altenfelder, sócio da Sei Consultoria, especializada em projetos de sustentabilidade.
Reputação em baixa: madeireiras do Pará apostam na certificação para ganhar mercado e "limpar" sua imagem no Exterior
A lista é vasta: inclui o amianto e as lâmpadas incandescentes, além das usinas termelétricas movidas a carvão mineral e das madeireiras. Isso explica por que, mesmo depois de a comercialização ter sido banida em diversos países, as lâmpadas incandescentes continuam rendendo um bom dinheiro para os fabricantes. Desde que comprou a americana Sylvania, a indiana Havells, que fatura US$ 1,5 bilhão, fez uma reengenharia nos negócios.
Fechou fábricas e concentrou na Colômbia a fabricação de lâmpadas fluorescentes tubulares, que usam mercúrio em sua composição, e de incandescentes, que desperdiçam 95% da energia que consomem. Essa planta atende basicamente a América Latina e a África. No Brasil, os dois produtos garantem metade das receitas do grupo indiano.
Com preço em torno de R$ 1, as lâmpadas incandescentes são as preferidas em países nos quais a população não tem renda para gastar R$ 5 em uma moderna fluorescente compacta. “Apesar disso, nós estamos investindo para desvincular nossa imagem dos produtos ambientalmente incorretos, incluindo itens mais modernos em nosso portfólio, como as lâmpadas de LED,” destaca Pedro Queiroz, diretor-geral da Havells-Sylvania do Brasil.
Posição oposta à adotada pela Eternit, dona da terceira maior jazida de amianto crisotila do planeta, usado para fabricar caixas-d'água e telhas de fibrocimento, por exemplo. A companhia pretende investir cada vez mais nessa divisão, mesmo vivendo sob ameaça de ações de indenização movidas por ex-funcionários, que alegam sofrer de câncer, por causa do amianto.
A lista é vasta: inclui o amianto e as lâmpadas incandescentes, além das usinas termelétricas movidas a carvão mineral e das madeireiras. Isso explica por que, mesmo depois de a comercialização ter sido banida em diversos países, as lâmpadas incandescentes continuam rendendo um bom dinheiro para os fabricantes. Desde que comprou a americana Sylvania, a indiana Havells, que fatura US$ 1,5 bilhão, fez uma reengenharia nos negócios.
Fechou fábricas e concentrou na Colômbia a fabricação de lâmpadas fluorescentes tubulares, que usam mercúrio em sua composição, e de incandescentes, que desperdiçam 95% da energia que consomem. Essa planta atende basicamente a América Latina e a África. No Brasil, os dois produtos garantem metade das receitas do grupo indiano.
Com preço em torno de R$ 1, as lâmpadas incandescentes são as preferidas em países nos quais a população não tem renda para gastar R$ 5 em uma moderna fluorescente compacta. “Apesar disso, nós estamos investindo para desvincular nossa imagem dos produtos ambientalmente incorretos, incluindo itens mais modernos em nosso portfólio, como as lâmpadas de LED,” destaca Pedro Queiroz, diretor-geral da Havells-Sylvania do Brasil.
Posição oposta à adotada pela Eternit, dona da terceira maior jazida de amianto crisotila do planeta, usado para fabricar caixas-d'água e telhas de fibrocimento, por exemplo. A companhia pretende investir cada vez mais nessa divisão, mesmo vivendo sob ameaça de ações de indenização movidas por ex-funcionários, que alegam sofrer de câncer, por causa do amianto.
Poluição: concebidas como um seguro contra o apagão, as usinas térmicas vão "sujar" a matriz energética brasileira
De acordo com Élio Martins, presidente da Eternit, os casos do passado tiveram relação com o amianto anfibólio, importado da Europa. Ele diz que o amianto usado pela companhia é seguro. Para sustentar sua tese, exibe laudos feitos por diversos institutos. “Desde a década de 1980 não registramos novos casos de doenças ligadas a esta matéria-prima,” cita Martins. “Das 1,3 mil pessoas que atuaram nas fábricas da Brasilit e da Eternit em São Paulo, pelo menos metade está contaminada,” rebate João Eliezer, presidente da associação que representa as vítimas do amianto.
“O amianto é seguro, tem preço competitivo e garante lucro à empresa”, ressalta o presidente da Eternit. E isso fica evidente em seu balanço financeiro. O produto e seus derivados geraram 89,8% da receita líquida de R$ 582 milhões da companhia em 2009. Pela ótica do consumidor, o que prevalece é o custo até 50% menor em relacão às telhas de cerâmica.
Apesar de esses produtos serem malvistos no mercado e de as empresas sofrerem com a patrulha de entidades como o Greenpeace, as companhias não deixam de produzi-los por questões até mesmo estratégicas. E é isso o que sustenta a opção do Grupo EDP e da MPX. que estão construindo uma termelétrica movida a carvão mineral em Pecém (CE). Trata-se de um empreendimento orçado em R$ 4,5 bilhões e capaz de gerar energia suficiente para abastecer uma cidade do porte de Fortaleza (CE).
Os ecologistas torcem o nariz para o projeto alegando que o combustível escolhido vai ajudar a “sujar” a matriz energética brasileira. Quando estiverem funcionando todas as usinas termelétricas contratadas pelo governo para o período 2008-2017, a emissão de dióxido de carbono (CO2) do setor elétrico deverá quase triplicar para 39,3 milhões de toneladas. O governo defende as térmicas como sendo a única forma de evitar o apagão. “É uma opção equivocada tanto pelo aspecto ambiental como econômico”, sustenta Ricardo Baitelo, ativista do Greenpeace. Para ele, seria melhor apostar nas fontes renováveis como a eólica e a biomassa.
“Vamos adotar tecnologias capazes de reduzir o passivo ambiental”, defende Paulo Monteiro, diretor de sustentabilidade da EBX, holding que controla a MPX. As iniciativas incluem desde a instalação de filtros de purificação de resíduos até o reflorestamento de áreas degradadas como forma de zerar as emissões. O contrato vai colocar R$ 489 milhões, por ano, nos cofres da empresa até 2027.
Mas há ainda os casos de segmentos econômicos inteiros que vivem sob constante pressão de ecologistas e da comunidade internacional, como as madeireiras que operam na Amazônia. Para reverter a imagem negativa no Exterior, um grupo de empresários paraenses fundou uma associação de exportadores, a Aimex, e passou a investir na certificação de seus produtos.
“Quem opera na legalidade é punido duplamente: pela concorrência desleal e pela lentidão dos órgãos governamentais que atuam na região,” resigna-se Justiniano Neto, diretor executivo da Aimex. O Estado responde por metade das receitas de R$ 6 bilhões obtidas pelo setor. Esse número, avalia o dirigente, poderia dobrar, em apenas cinco anos, se houvesse uma política de incentivos para toda a cadeia moveleira.
Para evitar “barreiras ecológicas” no Exterior, a entidade aposta na adesão a selos como o FSC, que atestam que a madeira foi obtida de área legalizada e sem o uso de trabalho escravo. Para ele, o trabalho de conscientização depende também dos brasileiros. “Somos o maior consumidor de madeira tropical do mundo”, aponta Neto.
Fonte: Isto é Dinheiro – Versão On line
Nº EDIÇÃO: 658 Negócios 14.MAI - 21:04 Atualizado em 15.05 - 18:40
Link: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/23086_SUJO+MAS+LUCRATIVO
De acordo com Élio Martins, presidente da Eternit, os casos do passado tiveram relação com o amianto anfibólio, importado da Europa. Ele diz que o amianto usado pela companhia é seguro. Para sustentar sua tese, exibe laudos feitos por diversos institutos. “Desde a década de 1980 não registramos novos casos de doenças ligadas a esta matéria-prima,” cita Martins. “Das 1,3 mil pessoas que atuaram nas fábricas da Brasilit e da Eternit em São Paulo, pelo menos metade está contaminada,” rebate João Eliezer, presidente da associação que representa as vítimas do amianto.
“O amianto é seguro, tem preço competitivo e garante lucro à empresa”, ressalta o presidente da Eternit. E isso fica evidente em seu balanço financeiro. O produto e seus derivados geraram 89,8% da receita líquida de R$ 582 milhões da companhia em 2009. Pela ótica do consumidor, o que prevalece é o custo até 50% menor em relacão às telhas de cerâmica.
Apesar de esses produtos serem malvistos no mercado e de as empresas sofrerem com a patrulha de entidades como o Greenpeace, as companhias não deixam de produzi-los por questões até mesmo estratégicas. E é isso o que sustenta a opção do Grupo EDP e da MPX. que estão construindo uma termelétrica movida a carvão mineral em Pecém (CE). Trata-se de um empreendimento orçado em R$ 4,5 bilhões e capaz de gerar energia suficiente para abastecer uma cidade do porte de Fortaleza (CE).
Os ecologistas torcem o nariz para o projeto alegando que o combustível escolhido vai ajudar a “sujar” a matriz energética brasileira. Quando estiverem funcionando todas as usinas termelétricas contratadas pelo governo para o período 2008-2017, a emissão de dióxido de carbono (CO2) do setor elétrico deverá quase triplicar para 39,3 milhões de toneladas. O governo defende as térmicas como sendo a única forma de evitar o apagão. “É uma opção equivocada tanto pelo aspecto ambiental como econômico”, sustenta Ricardo Baitelo, ativista do Greenpeace. Para ele, seria melhor apostar nas fontes renováveis como a eólica e a biomassa.
“Vamos adotar tecnologias capazes de reduzir o passivo ambiental”, defende Paulo Monteiro, diretor de sustentabilidade da EBX, holding que controla a MPX. As iniciativas incluem desde a instalação de filtros de purificação de resíduos até o reflorestamento de áreas degradadas como forma de zerar as emissões. O contrato vai colocar R$ 489 milhões, por ano, nos cofres da empresa até 2027.
Mas há ainda os casos de segmentos econômicos inteiros que vivem sob constante pressão de ecologistas e da comunidade internacional, como as madeireiras que operam na Amazônia. Para reverter a imagem negativa no Exterior, um grupo de empresários paraenses fundou uma associação de exportadores, a Aimex, e passou a investir na certificação de seus produtos.
“Quem opera na legalidade é punido duplamente: pela concorrência desleal e pela lentidão dos órgãos governamentais que atuam na região,” resigna-se Justiniano Neto, diretor executivo da Aimex. O Estado responde por metade das receitas de R$ 6 bilhões obtidas pelo setor. Esse número, avalia o dirigente, poderia dobrar, em apenas cinco anos, se houvesse uma política de incentivos para toda a cadeia moveleira.
Para evitar “barreiras ecológicas” no Exterior, a entidade aposta na adesão a selos como o FSC, que atestam que a madeira foi obtida de área legalizada e sem o uso de trabalho escravo. Para ele, o trabalho de conscientização depende também dos brasileiros. “Somos o maior consumidor de madeira tropical do mundo”, aponta Neto.
Fonte: Isto é Dinheiro – Versão On line
Nº EDIÇÃO: 658 Negócios 14.MAI - 21:04 Atualizado em 15.05 - 18:40
Link: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/23086_SUJO+MAS+LUCRATIVO
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